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05/12/2024
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    O Filho Pródigo

    Jesus começa dizendo: “Um homem tinha dois filhos; mais novo disse ao seu pai: ‘Pai, dê-me a parte dos bens a que tenho direito. Então ele dividiu os seus bens entre eles. O filho mais novo quer sua herança enquanto o pai está vivo. Ele quer sua parte agora para poder ser independente e gastar sua herança como desejar. Enquanto Jesus estava na Pereia, ao leste do rio Jordão, Ele fazia as ilustrações da ovelha e da dracma perdidas, que transmitem preciosas lições sobre o arrependimento do homem e o perdão divino.  Desta vez, o mestre destaca a ilustração do filho querido que vai embora, mas arrependido, volta para a casa dos pais.

    Tolstói certa vez disse que “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Aqui, nossa aldeia se encontra na Palestina do Século I, no tempo das comunidades patriarcais. Por questões de sobrevivência, era necessário assumir uma postura de proteção mútua. Em razão da escassez de alimento e da dificuldade de se proteger a propriedade, o isolamento era garantia de morte prematura.

    As pessoas se encontravam, portanto, intimamente ligadas à terra. Do apascentamento dos rebanhos ao cultivo dos grãos, tudo era feito em conjunto pelo aldeões. O grande responsável pela manutenção dessa ordem era o patriarca, figura a quem se devia grande respeito. Sua influência se estendia para além do núcleo familiar, abrangendo também os seus empregados e suas respectivas famílias.

    Diante desse cenário, e para um grupo de camponeses, Jesus narra uma parábola cuja incompreensão atravessa os séculos. “Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao seu pai: ‘Pai, quero a minha parte da herança’. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles. “Não muito tempo depois, o filho mais novo reuniu tudo o que tinha e foi para uma região distante; e lá desperdiçou os seus bens, vivendo irresponsavelmente.

    Depois de ter gasto tudo, houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade. Por isso foi empregar-se com um dos cidadãos daquela região, que o mandou para o seu campo a fim de cuidar de porcos. Ele desejava encher o estômago com as vagens de alfarrobeira que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada.

    Caindo em si, ele disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome! Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados’. A seguir, levantou-se e foi para seu pai. Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou.

    O filho lhe disse: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho’. “Mas o pai disse aos seus servos: “Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e alegrar-nos, pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado’. E começaram a festejar o seu regresso.

    O filho mais velho que estava no campo, se aproximou da casa, ouviu a música e a dança. Então, chamou um dos servos e perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe respondeu: ‘Seu irmão voltou, e seu pai matou o novilho gordo, porque o recebeu de volta são e salvo’. O filho mais velho encheu-se de ira e não quis entrar. O pai saiu e insistiu com ele. Mas ele respondeu ao seu pai: ‘todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos. Mas quando volta para casa esse teu filho, que esbanjou os teus bens com as prostitutas, matas o novilho gordo para ele!’ Disse o pai: ‘Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu. Mas nós tínhamos que celebrar a volta deste seu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado’ “. Para se compreender essa parábola, é preciso viajar no tempo e deixar de lado algumas concepções sociológicas que nós, ocidentais do Século XXI, costumamos utilizar.

    Jesus falava de acordo com o tempo e os lugares. Assim, um gesto que pode passar despercebido, mas que é fundamental no contexto social do Oriente Próximo, onde a história se passa, é o problema causado pela questão da antecipação da herança. Para aquelas pessoas, esse pedido equivalia a desejar a morte do patriarca, uma falta tão grave que poderia ser punida com o apedrejamento.

    Mesmo diante de tamanha humilhação, o patriarca concorda com a solicitação do filho. Este, ciente da sua situação, vende os bens herdados e parte para uma terra distante. Lá, dilapida o patrimônio e se vê obrigado a cuidar de porcos, algo degradante para a época. Em razão da fome que se abate na região, passa a tentar se alimentar da comida destinada a esses animais. No auge do sofrimento, ele “cai em si”, fazendo sua consciência despertar.

    Arrependido, ele decide buscar o perdão do pai. No episódio do retorno à casa, a sutileza da sabedoria de Jesus impressiona: o patriarca, um homem de andar lento e solene, corre em direção ao filho, abraça-o e beija-o no rosto, na frente de todos. Aquela cena chocante contrariava todas as tradições do patriarcado. Por amor ao filho, o pai se humilha perante a aldeia naquele gesto público.

    O pai manda trazer para o filho egresso sandálias e um anel, objetos utilizados apenas por membros da família, jamais por empregados, sinalizando que a reconciliação era plena. A parábola do filho pródigo remete o homem a uma profunda meditação sobre os valores da família, no contexto do real sentido da vida.

     

     

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