“Será que a luz do meu destino… vai te encontrar?” (Retrovisor – Raimundo Fagner)
A longa distância entre Jaboticabal e Umuarama nos privou daquela convivência agradável e quase que diária, na nossa inesquecível Mundo Novo, nos anos 1980 e 1990. Até então caçula da família Alves, aquele menino de aparência frágil que não desgrudava de seus óculos de lentes arredondadas, mesmo com pouca idade já questionava os mais velhos a respeito dos mais variados assuntos.
O Palmeiras já ganhou o seu coração de pequeno, assim como o gosto por carros e motos de grandes cilindradas. E essas paixões platônicas em sua maioria, davam a ele uma sede de curiosidade explícita. Em poucos minutos, enumerava todas as características técnicas de cada máquina.
Ainda menino, aprendeu a admirar o pai, dando seus palpites e acordando cedo para ajudar a viabilizar o jornal da família, que começava a se fortalecer na região. Na época, eu comprei um Chevette amarelo só com as comissões das publicidades que vendi na cidade, ao longo de três meses. Lembro que ele ficou maravilhado com essa façanha e toda manhã saía comigo para conhecer de perto as técnicas de vendas de anúncios e matérias para o semanário.
Como esquecer daquele Castro Alves brincalhão que gostava de inventar apelidos para as pessoas? Suas brincadeiras eram agradáveis e divertidas. Ninguém escapava de suas tiradas cômicas!
O Castro tinha até o poder de tirar a mãe Luzimar do sério. Quando ela pegava no pé dele por algum motivo, ele imitava a matriarca, dizendo: “Dá prá ser feliz?” O pai Jairo admirava seu jeito brincalhão de enxergar as coisas à sua maneira. E, para cada situação, vinha ele com um apelido, uma comparação esquisita, uma frase mal colocada e, por vezes exagerando nas gafes de seu ídolo e patriarca. Nem eu, que era mais próximo dele, escapei de suas palhaçadas. E quando ele vinha em casa, pegava no pé da Benvinda, que na época tinha uma Escola de Datilografia. Ao longo dos anos, ele criou um monte de nomes para a empresa dela…
Jota Oliveira, Eduardo Oliveira (in memmorian), Ligia, Wilson Brandão, Natal, Valdir, Cláudio Thiele, Ganso, Ademir Bronquite, a irmã Junias, Josismar, Célio, Gilmar e tantos outros, foram vítimas de suas picardias juvenis.
A primeira namorada Sandra foi a sua escolhida para uma vida a dois. E mesmo com pouca idade, assumiram o sério compromisso da formação de uma nova família. Era o início de uma nova era, após o falecimento dos avós. Um novo ciclo se iniciava, então.
Começava alí um Castro Alves mais compenetrado, mais focado com a expansão do jornal, mais preocupado com os laços familiares e ainda mais brincalhão. Curioso ao extremo, foi ganhando aptidão para os negócios e vendo em cada atividade comercial, uma chance de se encaixar no ramo.
Em pouco tempo brilhou, ganhou luz própria, virou patrão e foi atrás de seu destino, ao lado da inseparável esposa Sandra Nali.
A distância de pouco mais de cem quilômetros, não era empecilho para aquele homenzinho com alma de menino, mostrar seu lado solidário e desapegador. O pai Jairo, a mãe Luzimar, a irmã Júnias e o irmão temporão Maicon Telles, tinham um espaço privilegiado em sua bondade fraternal.
Como não chorar? Como não chorar diante de fato tão grotesco, tão covarde e inesperado que entristeceu muita gente, tirando do nosso convívio, uma personalidade única, especial e que fazia de sua vida uma diversão. Como não sentir a falta de um vencedor, que mesmo trilhando ruelas tortuosas por vezes, vislumbrava um futuro promissor a todos aqueles que faziam parte de sua trajetória de sucesso?
O sonho de Castro Alves ficou prá trás. Mas, seu legado ficará marcado entre nós pelo seu dom de empreendedorismo, persistência e sobretudo, pelo poder de superação, diante dos obstáculos naturais que a vida nos reserva ao longo de nossa caminhada.
Sua semente foi semeada e os filhos Cássio e Bruna ficam com a missão de seguir adiante, catalisando energia de seu espírito inovador e aventureiro, para que sua marca seja perpetuada.
Do amigo chorão: Marcos Ferreira, Jaboticabal, SP