Mundo Novo, MS. Foi exatamente isso que o município localizado no extremo sul do Estado signifiou para a família de Odair de Brito Mazo. Eles vieram de Santa Cruz de Monte Castelo, que fica no Paraná. Era setembro de 1975 quando o menino de 13 anos veio com os pais e mais quatro irmãos em busca de melhores oportunidades.
Os lavradores paranaenses tiveram então como primeiro endereço um sítio para, dois anos depois, se estabelecerem na cidade. O pai, seu Frutuoso de Brito Neto, conseguiu uma vaga de servente de pedreiro e Odair de serralheiro. Além de ocupar uma vaga em uma siderúrgica, Odair fazia o ensino médio quando um colega de sala falou do concurso para o recém-instalado Fórum de Mundo Novo.
“Eu nem sabia o que era oficial de justiça. Mas eu também estava aprendendo datilografia e sonhava em passar em um concurso. Mesmo assim, jamais imaginava que iniciaria minha carreira pública no Fórum”. E lembra ainda sobre esse tempo: “graças a Deus fiz a prova e em maio de 1982 fui chamado”.
Mundo Novo, vida nova, emprego novo, estabilidade e alegria sem fim quando uma moça do Fórum foi avisar sobre a aprovação do filho mais velho. No dia seguinte Odair já estava lá, construindo a história de uma nova comarca, mesmo sem ainda sequer saber qual o trabalho a ser desempenhado por um oficial de justiça.
E teve que aprender logo porque saiu o primeiro mandado e o então Juiz Manoel Mendes Carli perguntou se Odair sabia fazer uma intimação. “Não, doutor. Sou leigo e nem sei sobre a minha função. No que respondi isso, ele pegou uma folha sulfite e rascunhou a certidão”, lembra com carinho sobre o apoio inicial vindo do magistrado.
Ainda sobre o seu primeiro mandado, Odair conta que um escrivão trouxe uma precatória do Rio Grande do Sul em mãos. Era de busca e apreensão de um caminhão e um trator na área rural de Japorã. “Daí o escrivão olhou pra mim e falou: ‘Mas é você que vai? Quantos anos você tem?’. Eu respondi que tinha 19 anos e ele não acreditou muito”, conta o oficial, pontuando aqui a situação tensa vivida nessa região de fronteira há 39 anos.
Trajetória essa marcada principalmente pelas orientações de Mendes Carli, que lhe ensinou ainda que um oficial de justiça, ao abordar o intimado, deve se posicionar com tranquilidade, respeito, dar toda atenção à pessoa, ouvir o que ela tem a dizer e sempre orientá-la pra consultar um advogado ou a Defensoria Pública. “Mostrar a ela que você está ali a mando do Juiz e lhe transmitir segurança. E até agora, graças a Deus, nunca tive nenhum problema na função”.
A não ser quando algo saiu do controle. Já trabalhando em Campo Grande, Odair foi cumprir um mandado de busca e apreensão de cinco crianças, todos irmãos, com idade entre 2 a 9 anos, no bairro Los Angeles. “Chegamos com o carro do Tribunal, bati à porta e ninguém atendeu. Uma das vizinhas disse que a mãe teria ido buscar as crianças na escola. Já era final de tarde, então aguardamos um pouquinho. Com uns minutos, a mãe chegou com os filhos, Dei a notícia e ela começou a gritar: ‘estão levando meus filhos! Socorro, me ajude!’”.
Em seguida, os dois meninos maiores saíram correndo e os vizinhos se aproximaram. Resumindo: em cinco minutos Odair estava cercado por dezenas de pessoas e não pôde fazer nada. A polícia chegou, mas a mãe e as crianças desapareceram. “Me senti frustrado porque as ordens judiciais têm que ser cumpridas. Não interessa qual parte tem a razão”, revive.
Mesmo gostando muito de Mundo Novo e grato a tudo que a cidade lhe proporcionou, Odair e a esposa Ulda decidiram mudar para a capital de Mato Grosso do Sul para que os filhos Leandro, Fernanda e Vinícius se preparassem para o futuro profissional. “Assim, fiz permuta com o colega José Alves e estou em Campo Grande há praticamente 18 anos, muito feliz porque nossos projetos de vida deram certo”.
Autor da notícia: Secretaria de Comunicação – imprensa@tjms.jus.br