Depois da partida dos Magos, saindo de Belém, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo. Num instante, a alegria de Maria com a vinda daqueles visitantes que tinham reconhecido em seu Filho o Messias, transformou-se em dor e angústia. Era bem conhecida a crueldade do rei da Palestina, sempre temeroso de que alguém lhe arrebatasse o trono; por isso, tinha mandado assassinar crianças e adultos que podiam lhe fazer sombra, como consta em diversas fontes históricas. O perigo era grande; mas Deus tinha planos de salvação que não podiam deixar de ser cumpridos por causa da ambição e iniquidade de um tirano. No entanto, o Senhor não faz milagres chamativos, conta com a correspondência de Suas criaturas fiéis. Por isso, os Magos, depois de avisados em sonho para não falarem com Herodes, retornaram para a sua terra, passando por outro caminho.
Também José se comportou com extremo cuidado. Logo que recebeu o aviso divino, levantando-se de noite, tomou o Menino e Sua Mãe e retirou-se para o Egito. Começava a primeira das perseguições que Jesus tinha de sofrer na Terra, ao longo da história, em Si próprio ou nos membros do Seu Corpo místico.
Existiam dois itinerários principais para ir para o Egito. Um mais cômodo, mas também mais frequentado, descia pela margem do Mediterrâneo e atravessava a cidade de Gaza. O outro, menos utilizado, passava por Hebrom e Bersabé, antes de atravessar o deserto de Idumeia e entrar no Sinai. Tratava-se de uma longa viagem, de algumas centenas de quilômetros, que deve ter durado de dez a catorze dias.
Em Hebrom ou em Bersabé, esta última cidade situada a 60 quilômetros de Belém, devem ter comprado provisões antes de enfrentar a travessia do deserto. É provável que, nesta parte da viagem, eles se incorporassem a alguma pequena caravana, pois teria sido quase impossível fazê-la sozinhos: o calor extenuante, a falta de água, o perigo de bandidos, tornavam absolutamente desaconselhável viajar sem um grupo. O historiador Plutarco narra que os soldados romanos que, no ano 155 antes de Cristo, realizaram essa travessia para combater no Egito, tinham mais medo de enfrentar as agruras do deserto do que da guerra que se dispunham a fazer.
A tradição – Maria, com o menino nos braços, cavalgava sobre um jumento que José conduziria pela rédea. Mas a fantasia dos escritos apócrifos fez florescer numerosas lendas sobre o episódio: palmeiras que estendem as copas para oferecer uma sombra aos fugitivos, feras que se amansam, salteadores que se tornam humanitários, fontes de água que aparecem de repente para matar a sede. A piedade popular faz disso eco em quadros e composições poéticas, com a finalidade louvável de enaltecer o cuidado da Providência Divina. A verdade é que se tratou de uma fuga em todo o trajeto, na qual, aos sofrimentos físicos, juntava-se o temor de serem alcançados em qualquer momento por algum pelotão de soldados. Só quando chegaram a Rhinocolura, na fronteira entre a Palestina e o Egito, puderam seguir mais tranquilos.
Entretanto, na pequena aldeia de Belém, consumava-se a matança de um grupo de crianças menores de dois anos, arrancadas dos braços de suas mães. Cumpriu-se o que foi anunciado pelo profeta Jeremias: “Uma voz se ouviu em Ramá, pranto e grande lamentação; Raquel chorando os seus filhos, sem admitir consolação, porque já não existem”. Trata-se, indubitavelmente, de uma passagem de difícil compreensão, que foi, por vezes, para muitos, pedra de escândalo: como pôde Deus permitir o sofrimento dos inocentes, especialmente crianças? A resposta a esta pergunta apoia-se em dois pontos firmes: Deus não trata os homens como marionetes, mas respeita a sua liberdade, mesmo quando se empenham em fazer o mal; ao mesmo tempo, com a Sua Sabedoria e a Sua Providência, sabe retirar o bem do mal. Deus escreve direito com as linhas torcidas pelos homens. De qualquer forma, só à luz do sacrifício de Jesus na Cruz se esclarece esse enigma. A Redenção operou-se por meio do sofrimento do Justo, do Inocente por excelência, que deseja associar os homens ao seu sacrifício.
A tradição não é unânime sobre o lugar da residência da Sagrada Família no Egito: Menfis, Heliópolis ou Leontópolis, pois no amplo delta do Nilo floresciam muitas comunidades judaicas. Integraram-se numa delas, como emigrantes, e ali José encontraria um trabalho que lhe permitisse sustentar com dignidade, ainda que modestamente, a sua Família. De acordo com os cálculos mais comuns, viveram no Egito pelo menos um ano, até que, de novo, um anjo anunciou a José que já podia regressar à Palestina.
Foram meses de trabalho escondido e de sofrimento silencioso, com a nostalgia da casa abandonada e, ao mesmo tempo, com a alegria de ver crescer Jesus são e forte, longe do perigo que o ameaçava. À sua volta, contemplavam muita idolatria, tantas figuras de deuses estranhos com figuras de animais. No entanto, Maria sabia que o filho Jesus tinha vindo ao mundo também por aquelas pessoas; também para elas era a Redenção.
Retorno a Nazaré – Conforme o anjo do Senhor havia dito para José, o rei Herodes morreu logo. Em seu lugar passou a reinar na Judeia Arquelau, filho de Herodes. José não sabia, portanto, qual seria a intenção do rei Arquelau. Talvez, tomasse o mesmo caminho do pai e prosseguisse no intento de matar o menino Jesus. Todavia, o anjo de novo apareceu a José em sonhos no Egito e lhe disse: – Levanta-te, toma o menino e a mãe dEle e vai para a terra de Israel. Porque já morreram os que procuravam tirar a vida do menino. José, então, se levantou, partiu de volta. Entretanto, tempos depois, na volta do Egito, ao saber que era Arquelau quem reinava na Judeia, em lugar de seu pai Herodes, teve medo de voltar para lá. Mas, como fora avisado pelo anjo em sonho que já podia sair do Egito, foi com a família para as regiões da Galileia.
Na Galileia, foram morar na cidade chamada Nazaré. Mais uma vez, isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: – Ele será chamado o Nazareno. E chegou, e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno.
Pouco sabem os historiadores sobre a infância de Jesus. Conforme o Evangelho de Mateus, Jesus teria passado o começo de sua infância no Egito até a morte do rei Herodes que queria matá-lo. No entanto, o relato de Mateus não informa quando a família de Jesus teria deixado Belém e ido para o Egito e nem o momento em que retornaram.