Os israelitas, também chamados de judeus ou hebreus, sofriam uma escravidão que já durava cerca de 400 anos no Egito. Nesse tempo, nasce Moisés, o escolhido de Deus para libertar esse povo da escravidão. Moisés cresce e é educado no palácio do Faraó. Porém, ouve o chamado de Deus, rompe com tudo e aceita a sua missão de ser o líder do povo em direção a liberdade. Após as dez pragas enviadas por Deus ao Egito, o Faraó é derrotado e Moisés sai com uma numerosa multidão em direção à Terra Prometida. É nesse caminho, no meio do deserto, que surge o tabernáculo.
Os Israelitas estão aos pés do Monte Sinai, e um dos maiores pilares de sua herança eterna é lançado. Deus diz para Moisés: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles.” A construção do Mishkan, o Santuário portátil, que acompanhará os hebreus durante a sua jornada pelo deserto, é iniciada. Ele serviria como um precursor do Beit haMikdash, a Casa Santa, o Templo que seria erguido em Jerusalém.
Se o objetivo final era a construção do Templo em Jerusalém, porque Deus ordena que os Israelitas fizessem o Tabernáculo? Primeiramente, a Torá introduziu no mundo o conceito sublime da onipotência e onipresença de Deus, que pode ser encontrado e adorado em qualquer parte do mundo. E se Deus é onipresente, porque Ele necessitaria de um “endereço espiritual”? Não estariam os hebreus limitando Deus, ao construírem uma “casa” para Sua habitação?
De modo semelhante, Abravanel também questionou no seu comentário sobre o Tabernáculo: “porque Deus determinaria a construção do Santuário, se Ele não pode ser corporalmente definido, ou limitado a um local específico?” Uma das abordagens da Midrash (a Tradição Oral) afirma que a ordem para a criação do Mishkan, o Tabernáculo, foi em resposta ao pecado da idolatria, com a construção do bezerro de ouro.
O Êxodo, entretanto, traz a narrativa do Tabernáculo sete capítulos antes do episódio do bezerro de ouro. A abordagem da Midrash sobre o Tabernáculo requer uma reorganização do texto, seguindo o princípio do Ein mukdam umeuchar ba’Torah – o texto bíblico não segue, necessariamente, a ordem cronológica dos acontecimentos.
Esta reordenação da narrativa, permite ao estudioso de teologia lançar nova luz sobre o simbolismo complexo do Templo e do Santuário de Deus, uma vez que o Tabernáculo não fazia parte do plano original de Deus para o seu povo. Ele não precisava de um “Santuário feito por mãos de homem”. O ser humano, este sim é quem demonstrou precisar, por causa da sua imaturidade e inabilidade de se relacionar com o Criador.
O povo de Israel estava já sem esperança, distanciado de Deus, após pecar adorando a um bezerro de ouro. O Senhor, contudo, ultrapassa essa fissura profunda no relacionamento com os filhos de Jacó, para mostrar a eles o caminho de volta à casa do Pai. Era necessário um intermediário. E é aqui que entra o Tabernáculo, com todas as suas simbologias do sacrifício expiatório do Ungido do Céu, trazendo uma nova oportunidade para o povo se aproximar de Deus.
Se entendidos de forma própria, vemos que cada detalhe, dos rituais e utensílios do Tabernáculo traz uma mensagem de que Deus desejava ardentemente se fazer acessível ao homem, e perdoá-lo. O Senhor começa um processo de revelação ao homem, de como deveria corrigir os seus caminhos para chegar à perfeita comunhão com Ele, que futuramente levaria ao entendimento do Sacrifício Eterno de Jesus.
É semelhante o entendimento da palavra genérica mikdash – um lugar santo. Muitos exegetas afirmam que este termo reflete o caráter de uma obrigação eterna. O povo de Deus recebeu este mandamento para edificar um lugar santo, não apenas num ponto da história, mas eternamente. O rabino Ohr Hachaim ensina que o termo mikdash, um lugar santo, traz uma lição muito bonita aos corações. Alguém poderia esperar que o Santuário só se tornaria santo após a sua consagração a Deus.
Entretanto, ao se referir ao Santuário, imediatamente como “um lugar santo”, a Bíblia Cristã transmite a ideia verdadeira de que o Templo é santo desde o momento em que os Israelitas começam a criá-lo. Ou seja, o Templo é santo, desde o momento em que os Israelitas decidem obedecer à voz de Deus. A santidade é criada neste mundo quando o homem age de acordo com a vontade divina. Quando a criatura humana obedece a Deus, ele imediatamente é investido da santidade, pois é santificado pelo Criador, mediante a fé.