Fernando Henrique Cardoso alertou sobre a fragilidade da pinguela que o governo Michel Temer teria que atravessar para chegar vivo em 2018. Nos bastidores políticos, a especulação é do que pode acontecer se ele não conseguir sobreviver até lá.
A preocupação é justificada. Para quem acompanha de perto, o governo Temer continua precisando de aparelhos para respirar. O oxigênio que vem e vai, salva ou sufoca, tem a mesma origem. No domingo passado, diferente de Renan Calheiros e Rodrigo Maia, Temer escapou dos protestos nas ruas país afora.
Mas, a exemplo de todo o mundo político, Temer também está pendurado em uma broxa que ninguém tem a menor noção de até aonde vai chegar. A expectativa é de que o novelo puxado pela delação da Odebrecht é de terra arrasada na política nacional.
Como as lideranças de praticamente todos os partidos, Michel Temer é personagem da mega delação premiada da Odebrecht. Uma revelação feita nessa sexta-feira pelo repórter Severino Mota, do Buzzfeed, leva a fogueira para bem perto de Temer. O Jornal Nacional, com mais detalhes, pôs a crise no ventilador.
O que se sabia até agora é que Temer, em um encontro no Palácio do Jaburu, havia pedido a Marcelo Odebrecht ajuda financeira de R$ 10 milhões na campanha eleitoral de 2014. Ele próprio admitiu isso, mas insiste que tudo ocorreu dentro da lei e pelo caixa oficial de campanha.
A delação do executivo Cláudio Melo Filho, vice-presidente de Relações Institucionais, parece derrubar o pau do circo. Quando se soube que ele iria contar tudo o que sabia um calafrio coletivo tomou conta da alta cúpula política do país. Ele era o cara que operava para a Odebrecht em Brasília.
Em sua delação, além de ter comprometido meio mundo da política, ele revelou que parte desse dinheiro, em espécie, foi entregue no escritório do ex-deputado José Yunes, assessor especial e amigo do peito de Michel Temer. Parceiros como Geddel Vieira Lima, Romero Jucá Eduardo Cunha, Renan Calheiros, entre outros, já haviam ido para o sal.
Juntam-se a eles, agora, além, estrelas tucanas, como José Serra e Geraldo Alckmin, do PMDB, Eunício Oliveira, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Só que o estrago pode ser ainda maior. Se for comprovada a parte relativa a Michel Temer, ele pode afundar em 2017 e melar o plano de aliados, em especial dos tucanos, de assegurar uma travessia até 2018. Agrava essa situação o fato de até agora a esperada melhora da economia não deu as caras.
Nesse complicado contexto, lideranças políticas avaliam cenários. O pior deles seria a saída de cena de Temer e a escolha de seus sucessor pelo atual Congresso Nacional, como prevê a Constituição. Caso isso ocorra, o diagnóstico é unânime: tragédia.
Há alternativas postas. O deputado Miro Teixeira é autor de uma proposta de emenda constitucional que transforma biênio em triênio para eleições diretas presidenciais em caso de vacância do cargo. Por essa proposta, se Temer cair em 2017, por qualquer motivo, seu sucessor poderia ser escolhido pelo povo.
Miro Teixeira não conspira contra Temer. Propõe uma saída se o pior ocorrer. Mas as regras podem ser mudadas durante o mandato de Dilma que está sendo cumprido por Temer? “Espero que isso não aconteça. Mas não há dúvida sobre a legalidade dessa mudança constitucional”, afirma Miro Teixeira.
No Senado, há proposta no mesmo sentido, apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues. “Não dá para Temer continuar. A eleição direta de um novo presidente é a melhor maneira de enfrentar a crise”, diz o senador petista Lindbergh Farias, líder da tropa que tentou salvar o mandato de Dilma Rousseff.
Políticos do PMDB que participaram ativamente da articulação do impeachment de Dilma. Dizem eles que o partido e seus aliados vão fazer tudo o que for possível para sustentar o governo Temer. Alguns poucos admitem que, se não der certo, a alternativa menos ruim será a convocação de eleições. Outros dizem que não existe alternativa viável a Temer.