Fonte ouvida pelo Correio do Estado revela quea cúpula do poder estadual decidiu frear o poder da família após a descoberta durante apuração da morte de Matheus Xavier
Depois do atentado contra o ex-capitão da PM Paulo Xavier, “os próximos da lista da milícia seriam o filho de um ex-governador e o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho”. A afirmação é de uma fonte que acompanha de muito perto toda a investigação do atentado mal sucedido que resultou na morte do estudante de Direito Matheus Xavier, 20 anos, executado com tiros de fuzil em abril de 2019. Três acusados pelo assassinato vão a júri a partir de segunda-feira, em Campo Grande.
A fonte falou com o Correio do Estado nesta sexta-feira (14), mas após a entrevista exigiu que seu nome não fosse citado, pois vai estar presente em todo o julgamento e teme que as informações possam interferir no rumo do júri, que deve se estender por quatro ou até cinco dias.
Ao ser indagada sobre a razão de um filho de um ex-governador estar na mira da suposta milícia, a fonte se limitou a afirmar que “não precisa de muita coisa para que eles quisessem matar alguém”, negando-se a dar mais detalhes.
O outro suposto nome da lista, o advogado paulista Antônio Augusto Coelho, especializado em transações imobiliárias, teria virado alvo porque supostamente se apropriou da fazenda Figueira, apontada como o pivô do atentado contra o ex-PM Paulo Xavier.
Conforme a investigação, os pistoleiros erraram o alvo e acabaram matando o filho do ex-policial, que manobrava a caminhonete do pai na frente de casa.
E, para confirmar a tese de que os dois próximos nomes na lista da suposta milícia eram da cúpula do poder, a fonte lembra que estava em curso “a maior matança da história de MS, de picolezeiro a governador”.
A expressão entre aspas foi atribuída pela investigação a Jamil Name Filho e extraída de uma conversa que ele teve pelo WhatsApp com uma interlocutora. Agora, ela estampa dezenas de faixas que foram espalhadas pelas principais avenidas de Campo Grande ao longo da semana.
Conforme a fonte que exigiu anonimato, após o atentado que resultou na morte do estudante e por entenderem que mais gente corria sério risco de morte, as autoridades locais, tanto do Executivo, quanto do Legislativo e do Judiciário chegaram à conclusão de que era necessário parar de fazer vistas grossas e colocar um freio no poder da família Name.
Por isso, criaram uma força-tarefa (Omertá) que resultou na prisão de Jamil Name e de Jamil Name Filho, em setembro de 2019. Em uma das ações desta força-tarefa foram foi apreendido um arsenal composto por 22 armas, entre fuzis, pistolas, revólveres e escopeta calibre 12. As armas estavam em uma casa pertencente à família Name.
Antes desta descoberta, lembra a fonte, investigações que envolvessem o clã Name simplesmente não avançavam. Além das acusações sobre envolvimento com jogatina ilegal e agiotagem, pairavam inúmeras suspeitas de assassinatos e outros crimes.
Depois da prisão do patriarca (ele morreu em 2021) e do filho sob a acusação da morte de Matheus, outras denúncias e investigações vieram à tona e no final deste mês a Justiça define se Jamil Name Filho será ou não levado a júri popular pelo assassinato de Marcel Colombo, executado em outubro de 2018 em uma cachaçaria na região central de Campo Grande.
Depois de ser preso, Jamilzinho, como é conhecido, já foi condenado a 23 anos de prisão por três crimes.
O ADVOGADO
Mas não foi somente o nome de um filho de governador que assustou as autoridades locais. O advogado Antônio Augusto de Souza Coelho, que tem fama de ser muito próximo de ministros do STJ e do STF, conforme depoimento do pai de Matheus à polícia, também teve peso fundamental para que a operação Omertá fosse adiante. Pelo menos é isso que garantiu a fonte ouvida pelo Correio do Estado.
O advogado, informou o pai de Matheus à polícia, teria se desentendido com a família Name por causa da posse de uma fazenda de 19,1 mil hectares em Jardim. E, como o ex-PM Paulo Xavier era muito próximo deste advogado, os Name entenderam que ele teria ajudado a aplicar um golpe e por isso foi jurado de morte. No depoimento, porém, Paulo Xavier nega que tenha levado alguma vantagem nessa transação.
Antônio Augusto prestou depoimento durante as investigações da Omertá e neste sábado (15), enviou nota ao Correio do Estado garantindo inclusive que chegou a um acordo tanto com a família Name quanto com a associação criada pelo reverendo Moon em Mato Grosso do Sul e que era a proprietária anterior da fazenda Figueira.
Em seu depoimento à polícia, Paulo Xavier deu a entender que o advogado teria dado um golpe tanto na família Name quanto na associação do Reverendo Moon, que havia comprado cerca de 80 mil hectares de terra no Estado.
Cerca de 15 anos depois das aquisições iniciais, seus seguidores decidiram revender as terras, entre as quais a fazenda Figueira, avaliada hoje em cerca de R$ 700 milhões.
Entre outros casos famosos, o nome do advogado aparece nas investigações da Lava Jato e em um outro escândalo, o das Fazendas Reunidas Boi Gordo (FRBG), uma pirâmide financeira que lesou 32 mil investidores e gerou prejuízo de R$ 6 bilhões no começo da década passada.
NOTA NA ÍNTEGRA
“A defesa de Antônio Augusto de Souza Coelho esclarece que sua atuação enquanto advogado e suas transações comerciais relacionadas à propriedade seguiram integralmente o que determina a legislação brasileira. Nesse sentido, uma sentença arbitral já comprovou a legalidade do negócio entre Coelho e a Associação. Além disso, a propriedade de nome Figueiras foi posteriormente negociada com a família Name, conforme documentos comprobatórios. Importante ressaltar ainda que o advogado não tem qualquer envolvimento com o crime investigado pela Operação Omertà, além de ter sido testemunha de acusação.”