Mato Grosso do Sul é o Estado que tem o maior número de sobreposições de fazendas em áreas de terras indígenas do Brasil, com 630 imóveis ao todo. E o número cresceu exponencialmente nos últimos anos devido ao aumento de áreas de plantação de cana-de-açúcar, com incentivos do Governo do Estado, por meio de programas como o MS Renovável.
A maior sobreposição, a da Fazenda Terra Preta, invade 10.151 hectares da TI (Terra Indígena) Kadiwéu e está em nome de Helio Martins Coelho, ex-presidente da Acrisul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), falecido em 2008.
O maior conglomerado financeiro do Hemisfério Sul, o Banco Itaú, tem conexões econômicas com quatro sobreposições de terras indígenas no Estado. O fundo de investimento Kinea, que faz parte do grupo Itaú, investe em uma empresa de serviços agropecuários que tem, como um dos sócios, o dono de um imóvel que avança com 53,4 dos seus 715,7 hectares sobre a TI Guyraroká.
Com a internacionalização da Cosan, que junto com Shell controla a maior produtora de açúcar e etanol do mundo, a Raízen, a família de Rezende Barbosa foi gradualmente vendendo suas ações. Consta como último dos grandes acionistas individuais que não pertenciam à família Ometto, deixando o conselho de sócios em 2019, Roberto de Rezende Barbosa.
A Campanário é uma das principais fornecedoras da Raízen no Mato Grosso do Sul. Em agosto de 2022, a empresa foi homenageada pela multinacional com o título de “Produtor de Excelência” e foi reconhecida como “modelo de gestão de sustentabilidade” pelo programa Elo Raízen.
Ao todo, Mato Grosso do Sul possui 238.907,69 hectares em áreas sobrepostas, concentrando-se especialmente na TI Kadiwéu, em Porto Murtinho, na divisa com o Paraguai, e nas TIs Sete Cerros e Arroio-Korá, em Paranhos. O levantamento foi realizado pelo Observatório do Agronegócio no Brasil, o De Olho nos Ruralistas, com base nos registros fundiários do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Cana-de-açúcar
Três grandes empresas do setor sucroenergético no Brasil, financiadas com aportes internacionais, têm conexões com propriedades rurais sobrepostas a Terra Indígena Dourados, a Amambaipeguá I, do povo Guarani Kaiowá. São elas o Grupo Cosan, a Usina Santa Adélia e a Usina Três Barras.
Em Laguna Carapã, a Fazenda Campanário tem 238,5 hectares sobrepostos à TI Dourados-Amambaipeguá I. A fazenda pertence à família Rezende Barbosa, historicamente ligada ao Grupo Cosan.
Em 2023, o Estado alcançou a marca de 4º maior produtor de cana do Brasil, um crescimento de 8% em relação ao ano passado, que registrou 40,9 milhões de toneladas de cana. São, segundo a Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), 19 usinas operando com 860 mil hectares plantados de cana.