É a história ‘verídica’ de Manoel Alves Miranda Gondim de Lima Brito e Silva, no contexto de “estórias de Mané Diabinho” – Século XVIII, com as devidas adaptações e convenção de lugares e data, além de ‘personagens’ adotadas na crônica.
Muitos ‘causos’ da velha Bahia, região do lugarejo conhecido como ‘Malhada de Pedras’ e outros tantos lugares. Figura ‘mítica’, ‘Mané Diabinho’ aprontava no sertão baiano, e depois voltava para ‘corrigir’ suas ‘trapaças e malvadezas’. Era temido por onde passava, mas não fazia mal a ninguém. Esse homem, de baixa ‘estatura’, foi um autodidata e sábio, cujas ‘travessuras’ ficaram marcadas na memória de seus ‘imediatos’ sucessores. A Fazenda ‘Barra da Cerquinha’, onde morava, foi ‘palco’ de notáveis façanhas, com resultados ‘funestos’ para seus contemporâneos, notadamente para os familiares. Alguns dos muitos ‘fatos’ da época, serão registrados aqui, de acordo com antigos ‘relatos’ coletados na região mencionada.
O resgate da ‘estória’ de Mané Diabinho deve ser levado adiante, no intuito de mostrar à futura geração, assim como aos ‘demais’, que desconhecem o enredo, por mais ‘intrigante’ que seja. ‘Diabinho’ fez suas ‘estrepolias’, aventuras que valeram a pena em seu tempo. Esse homem ‘esquisito’, mas ‘detentor’ de muita ‘criatividade’, era ‘trisavô’ do autor desta crônica. (JLA)
‘Diabinho’ e a mula sem cabeça – 1
Mané Diabinho, em suas ‘andanças’, galopando em sua bonita mula ‘baia’, teve um Insólito ‘encontro’ com o padre Alonso Coqueiro, na localidade chamada ‘Brejo de Brumado’. O confronto foi duro entre Diabinho’ e o tal padre, que segundo populares tinha um caso ‘amoroso’ com uma mula sem cabeça. O animal da estória foi uma mulher, que por amar o padre, teria sido ‘amaldiçoada’, em virtude do hediondo pecado.
Mané Diabinho quis negociar com o sacerdote, propondo permutar sua mula com a de Alonso, que topou fazer o negócio. Mas Diabinho, esperto como era, queria uma boa’ volta em dinheiro, alguns mil réis, para ‘fechar’ o acordo. Com a natural ‘reação’ do padre de Brejo de Brumado, Diabinho fez a justificativa, dizendo que a ‘exigência’ era em virtude de sua mula baia ser perfeita, enquanto a do padre era uma mula ‘sem cabeça’.
Mané Diabinho e o Rapaz Paralítico – 2
‘Diabinho’, em sua mula baia, como sempre, andando pelo sertão, encontra cenas inusitadas. Certa vez, próximo ao lugarejo de ‘Santa Rosa’, eis um rapaz de ‘pernas coladas’, pois era paralítico e costumava ‘ficar’ às margens do caminho, defronte à casa de seus pais. Movido de compaixão, Mané Diabinho ‘apeou’ de sua mula, dirigindo-se ao rapaz, que estava sentado ali no chão, talvez esperando alguma ajuda. Não pensou ‘duas vezes’ e, com o seu jeitinho de alma boa, disse ao rapaz: “meu diabinho, deseja andar?” Com a resposta afirmativa, ele ‘agarrou’ o triste rapaz e, com palavras bem humoradas, decidiu na hora pela cura do paralítico. Com suas mãos firmes, deu um ‘baita’ sopapo, e assim, as pernas do pobre rapaz, foram literalmente ‘descoladas’.
Temendo represálias, como é comum no sertão nordestino, ‘Diabinho’ não titubeou. Chegou a espora no ‘mulão’ e sumiu para outras bandas, para novas travessuras. Algum tempo depois, voltando ao lugarejo, quis saber como vivia o ex-paralítico de Santa Rosa. Por ironia do destino, o rapaz, que era conhecido como ‘Zico da Muleta’, foi encontrado e estava muito feliz. Ambos se abraçaram e a família, demostrando ‘gratidão’ pelo feito, ofereceu uma festa ao ‘Diabinho’ benfeitor.
‘Diabinho’ na Barraca de Fumo – 3
Depois das ‘estórias’ do padre Alonso e do rapaz paralítico, eis aqui mais um ‘episódio’ do enredo sertanejo, falando de Mané Diabinho.
O ‘baixinho’ arteiro chegou em Monte Alegre e ali, muito tranquilo, riscou a espora em sua mula ‘ligeira’, acenando para os moradores, de maneira simpática. Pouco tempo no lugar, partiu rumo a Tremedal. No caminho, parou numa ‘barraca’, onde era vendido ‘fumo de corda’.
Diabinho foi se aproximando e com seu modo ‘educado’ cumprimentou o ‘vendeiro’, e logo em seguida, fez mais uma ‘diabrura’. Enquanto Zé Luiz atendia outro cliente, a surpresa: Mané lançou mão num daqueles rolos de fumo, e os enrolando no braço direito, disparou na ‘estradinha’ de chão, indo pernoitar na fazenda do tio Leonides, dali a duas léguas.
Como de costume, ‘Diabinho’ voltou alguns meses depois, e pagou a conta sem ‘pechinchar’, ao mesmo tempo em que se desculpou pela atitude insana. Trouxe ainda um ‘presente’ para o vendeiro que entendeu tudo, e ainda fez amizade duradoura com o ‘Diabinho’ da Barra da Cerquinha.
Mané Diabinho e o Ouro ‘enterrado’ – 4
Certa feita, vovô ‘Diabinho’ deixou a sua querida ‘Barra da Cerquinha’ e rumou para a Fazenda ‘Lagoa da Gameleira’, onde moravam outros ‘parentes’ que considerava muito. Montado em sua mula baia, ‘percorreu’ catorze léguas, cuja viagem demorou a noite toda e parte do dia seguinte. Pela contagem do tempo, ele teria feito esse ‘trajeto’ entre os anos de 1845 ou 1846.
O motivo da viagem. Um ‘ente’ querido, que detinha uma ‘fortuna’, teria deixado muito ouro ‘enterrado’. Em sonho, ‘seo’ Belizário apareceu a Diabinho, pedindo que ‘desinterrasse’ a riqueza e indicou o lugar em que se encontrava. Acreditando na conversa, Mané Diabinho se dirigiu depois da meia noite à localidade chamada ‘Lagoa Santa’, e ali estava uma velha casa abandonada.
Com muita disposição e sem medo, ele adentrou no ‘rancho’, fazendo a ‘necessária’ escavação. Ao final da ‘empreitada’ e na presença do falecido, encontrou ‘apenas’ um ‘punhado’ de carvão, e nada do mencionado ouro. Irritado, Diabinho perdeu todo o controle emocional e ofendeu frontalmente o ‘suposto’ dono da fortuna. Tendo a mão cheia com o material retirado do buraco profundo, atirou ‘tudo aquilo’ com fúria no rosto de Belizário. Dali, partiu em sua mula ligeira, para novas aventuras, sem dar explicação aos moradores da Gameleira. Assim, a alma ‘penada’ não conseguiu o seu objetivo e o ouro jamais foi encontrado.
‘Diabinho’ e o Juiz de Paz – 5
Após mais uma de suas ‘travessuras’ o folclórico Mané Diabinho foi conduzido à justiça baiana. Teria, então, que depor em Jacobina, perante o Juiz de Paz. Era ele um homem ‘destemido’ e para lá seguiu, como sempre ‘troteando’ em sua querida mula baia. Acompanhado de poucos amigos, começou o impiedoso interrogatório.
Munido com os preceitos legais da época, o juiz Salomão Barbosa não poupou ‘palavras’ de ordem para ‘apertar’ o filho de Barra da Cerquinha. O ‘questionamento’ foi ‘severo’, mas ‘Diabinho’ estava bem preparado, com a ‘intuição’ que Deus lhe presenteara. Ele estava ‘trajado’ com roupas de seu tempo, fazendo parte da ‘indumentária’ um paletó de cor clara, e com os bolsos cheios de bananas.
O ‘episódio’ foi marcado por um forte diálogo, mas o mestre Diabinho não teve qualquer ‘embaraço’ para responder ao astuto juiz de paz. A cada pergunta feita, a resposta era: ‘vamos comer banana?” Repetidas vezes, ele provocava o sorriso das pessoas e do próprio chefe da lei. Com o ‘mantra’ “vamos comer banana?”, ele venceu na justiça, e foi ‘liberado’ como se fosse um ‘louco’.
Estórias de Mané Diabinho – Conclusão
Mané Diabinho, cujo nome de batismo era Manoel Alves da Silva, realizou muitas ‘peripécias’ por onde andou. Teve alguns ‘casos’ amorosos, mas nunca foi apaixonado por qualquer mulher, por ser muito ‘desconfiado’. Nasceu alí mesmo, na fazenda citada, no inverno de 1823, vindo a falecer no outono de 1867, com 43 anos de idade. O ‘sepultamento’ aconteceu no cemitério da pequena Malhada de Pedras, mas o seu túmulo nunca foi localizado. Os mais antigos ‘admitem’ que tenha sido transladado para o céu, devido ao modus vivendo dele e pela imensa ‘generosidade’ que possuía, apesar de suas incontáveis ‘travessuras’ e atos de ‘irreverência’.
Relato de Jairo de Lima Alves, jornalista – Tribuna do Povo, Mundo Novo, MS