Áudios do grupo criminoso que atuava no contrabando de cigarros paraguaios, obtidos pela Justiça de Mato Grosso do Sul durante a Operação Celeritas e Greasy Money, deflagradas na última quarta-feira (7) pela Polícia Federal, revelam conversas entre dois investigados. Os assuntos incluem intenção de matar um delegado de Mato Grosso do Sul, questionamentos do porquê um dos criminosos – que conseguiu fugir após uma apreensão – não teria trocado tiros com os policiais e carros usados por eles, que chegavam a 265 km/h.
No primeiro áudio, os dois investigados exaltam a potência de um dos veículos da organização criminosa, que chega a 265 km/h, e demonstram a negligência ao percorrer as rodovias do Estado. Durante a conversa, um deles afirma que o carro chega a tremer, tamanho excesso de velocidade.
Já na segunda conversa, feita após apreensão em flagrante de uma carreta com 800 caixas de cigarro, os criminosos reclamam do prejuízo e que o delegado responsável pelas investigações não aceitava a propina oferecida. Em seguida, zombam da autoridade policial, comentando que o chefe da organização, citado como “homem”, poderia mandar matá-lo.
Após outros flagrantes, de dois veículos carregados com maconha, um dos investigados questiona o motorista de um dos carros, e pergunta “mas você nem revidou? Deu nem tempo de revidar? (sic)”. Não foi revelado a qual delegado os investigados se referiam, se pertence à Polícia Civil de um dos municípios onde foram feitas as prisões ou à Polícia Federal.
Confira as conversas na íntegra:
INVESTIGADO 1: O “FULAHNO” diz que o carro é uma galinha tá.
INVESTIGADO 2: Né não !!
INVESTIGADO 1: Diz que deu duzentos e sessenta e cinco (265) começou a tremer. Ele num viu na vida dele um trem pra andar daquele jeito !!
INVESTIGADO 2: (Risos)
INVESTIGADO 1: É doido ! Diz que é um canhão. “É doido bicho ! Isso é uma máquina menino.”
INVESTIGADO 2: Doido hein.
INVESTIGADO 1: Diz ele que daí começa a vibrar as vezes, treme um pouco e aí perde a estabilidade, estabilidade. Diz ele que deu duzentos e sessenta e cinco (265). “Mas é nada! C deu isso bicho ? To te falando bicho. Duzentos e sessenta e cinco. Não filmei porque tremia demais”. Te juro por Deus que ele falou.
INVESTIGADO 1: É doido. Eita máquina da porra. Mas beleza então.
O segundo diálogo mostra os investigados rindo e a intenção de matar o delegado:
INVESTIGADO 1: Rapaz, num sei não se esse Delegado vai viver hein. (Risos) eu acho que ele num vai pegar a manga do final do ano não.
INVESTIGADO 1: Eu também acho que não rapaz. Eu num sei não bicho!! O que que c me fala ?
INVESTIGADO 2: É f** hein.
INVESTIGADO 1: Se eu tivesse o poder que o “homi” tem, hoje mesmo já busca ele.
A terceira conversa revela a intenção de revidar as ordens de parada com tiros:
INVESTIGADO 1: Mas você nem revidou?
INVESTIGADO 2: Ahn?
INVESTIGADO 1: Deu nem tempo de revidar?
INVESTIGADO 2: Ah deu tempo não né cara, corri demais… preferi não revidar pra eles não ver o rumo que eu tava indo… (inaudivel) saindo, aí eles ve né
INVESTIGADO 1: Tá certo…
INVESTIGADO 2: E ia dar mais problema pra mim né
Operação “Celeritas” e “Greasy Money”
A operação é contra a organização criminosa do contrabando de cigarros paraguaios, tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro. Foram cumpridos 30 mandados de prisão preventiva e 31 mandados de busca e apreensão, expedidos pelas Justiças Federais de Naviraí e Campo Grande.
Os mandados foram cumpridos nas cidades de Naviraí, Itaquiraí, Eldorado, Tacuru e Bataguassu. As investigações começaram em 2017, e tiveram como alvo principal a organização criminosa em razão da forma imprudente, geralmente em altíssima velocidade, com que seus motoristas conduziam os veículos produtos de roubo e furto, carregados com cigarros paraguaios ou drogas trazidas do Paraguai.
A droga e o cigarro vinham da região de Mundo Novo e com destino a vários estados. Ainda durante as investigações, a Polícia Federal identificou que membros da organização criminosa mencionaram a possibilidade de atentarem contra a vida de autoridades da segurança pública, demonstrando a periculosidade de seus integrantes.
Foram apreendidos, durante as investigações, 2,7 milhões de maços de cigarros paraguaios, cinco toneladas de maconha e 25 veículos, de pequeno e grande portes. Parte do dinheiro proveniente das atividades criminosas do grupo era lavada por outra organização criminosa, chefiada por ex-político local, através de postos de gasolina, casa de shows e utilização de interpostas pessoas “laranjas”.
Fonte: Jornal do Conesul