Entre o antigo e o atual ministro de Saúde há mais semelhanças que diferenças quando o assunto é combate ao novo coronavírus. A constatação fica mais clara quando são observados os pensamentos de ambos em questões que têm se tornado frequentes nos discursos.
É o caso do isolamento social, da defesa da ciência e perfil menos político e mais técnico ao lidar com questões de saúde. Outras similaridades é que, à época de suas nomeações, ambos contavam com o apoio da comunidade médica.
“O isolamento horizontal é uma estratégia que permite ganhar tempo para entender melhor a doença.”(Nelson Teich)
Porém, existem diferenças: Mandetta sempre deixou lado o distanciamento com os problemas econômicos, enquanto o atual ministro prefere a linha de que não pode haver uma disputa entre saúde e economia. Além disso, o atual ministro foge do perfil político e fez sua história na iniciativa privada. Mandetta, por sua vez, tinha mais experiência com o SUS.
Teich assumiu o lugar de Mandetta após sucessivos desentendimentos entre Bolsonaro e o ex-ministro sobre as diretrizes das políticas públicas de combate à pandemia do novo coronavírus. A saída de Mandetta no cargo vinha sendo especulada nos últimos dias por causa de alguns desentendimentos com o presidente da República.
EFEITOS NA ECONOMIA
A primeira demonstração veio durante o discurso de posse do novo ministro. O recém-empossado ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou nesta sexta-feira (17) que o foco de atuação da pasta serão as pessoas. “O foco que a gente tem aqui é nas pessoas. Por mais que se fala em saúde e economia, não importa o que se falem, o final é sempre gente”, disse.
“Saúde e economia: as duas coisas não competem entre si. Quando polariza, começa a tratar pessoas versus dinheiro, o bem versus mal, emprego versus pessoas doentes”, afirmou Teich.
Duas semanas antes de sua exoneração, Mandetta voltou a se contrapor aos questionamentos do presidente Jair Bolsonaro. “O compromisso do médico é com o paciente. E o paciente agora é o Brasil”, disse Mandetta durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, no dia 3 de abril.
Na época, afirmou que, para ele, a posição do presidente é de alguém que se preocupa com a situação econômica mais carentes, mas rebateu que esse é um ponto que deve ser resolvido com políticas sociais.
ISOLAMENTO SOCIAL
“Saúde e economia: as duas coisas não competem entre si. Quando polariza, começa a tratar pessoas versus dinheiro, o bem versus mal, emprego versus pessoas doentes”, afirmou Teich.
Duas semanas antes de sua exoneração, Mandetta voltou a se contrapor aos questionamentos do presidente Jair Bolsonaro. “O compromisso do médico é com o paciente. E o paciente agora é o Brasil”, disse Mandetta durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, no dia 3 de abril.
Na época, afirmou que, para ele, a posição do presidente é de alguém que se preocupa com a situação econômica mais carentes, mas rebateu que esse é um ponto que deve ser resolvido com políticas sociais.
“Teremos semanas duras em abril e duríssimas em maio.”(Luiz Henrique Mandetta)
A respeito do afrouxamento nas regras de quarentena, deflagradas pelos estados, Mandetta pontuou: “Minha posição é de cautela. Todos que passaram por isso na marcha rápida tiveram colapso”.
Ele ainda previu a situação da pandemia no Brasil ao dizer que “teremos 20 semanas duríssimas. Passamos pelas quatro ou cinco primeiras semanas. Teremos semanas duras em abril e duríssimas em maio”.
A posição de Teich é semelhante à defendida por Mandetta quando estava à frente do Ministério. Ele já criticou o isolamento vertical, modelo defendido por Bolsonaro em que apenas pessoas no grupo de risco são colocadas em quarentena.
“Sendo real a informação que a maioria das transmissões acontecem a partir de pessoas sem sintomas, se deixarmos as pessoas com maior risco de morte pela Covid-19 em casa e liberarmos aqueles com menor risco para o trabalho, com o passar do tempo teríamos pessoas assintomáticas transmitindo a doença para as famílias”, escreveu.
“Além do impacto no cuidado dos pacientes, o isolamento horizontal é uma estratégia que permite ganhar tempo para entender melhor a doença e para implantar medidas que permitam a retomada econômica do país”, defendeu, em um artigo publicado na rede social Linkedin em 3 de abril com o título “COVID-19: Como conduzir o Sistema de Saúde e o Brasil”.
Uso da cloroquina
Mandetta também avaliou com reservas o uso irrestrito da cloroquina para o tratamento. “Para o Ministério da Saúde assinar que recomenda que se tome essa medida, nós precisamos de mais tempo para saber se isso pode se configurar em uma coisa boa ou se pode ter efeito colateral”, defendeu. “Nós temos o medicamento, mas precisamos de um pouco mais de evidência científica”, reforçou, 10 dias antes de ser demitido.
Teich já mencionou a cloroquina como esperança no tratamento do coronavírus, mas não se posiciona sobre a forma como ela deve ser usada.
Bolsonaro aposta no medicamento, usado no tratamento contra a malária, como um tipo de cura para a doença.
OS ÚLTIMOS DIAS DE MANDETTA NO MINISTÉRIO
O presidente e o então ministro travaram uma guerra fria em meio ao enfrentamento da Covid-19. Na última semana, a permanência de Mandetta já era dada como incerta. Mas a situação se agravou após o ministro dizer, durante entrevista, que a havia a necessidade de uma “fala única” no governo.
Na sua última terça-feira como ministro, Mandetta também rebateu comentários que circulam dentro do governo de que suas declarações em defesa do isolamento social e outras questões forçassem uma situação para deixar a função.
Antes, no domingo, Mandetta cobrou em entrevista uma “fala única” do governo sobre as estratégias de enfrentamento ao novo coronavírus para não confundir a população. O ministro pediu para que as pessoas mantenham o isolamento social para conter o avanço da doença.
QUEM É O NOVO MINISTRO DA SAÚDE
Na última quinta-feira (16), após o anúncio da demissão de Mandetta, Teich afirmou em pronunciamento que não fará mudanças “bruscas” na pasta. O novo ministro disse ainda que existe um “alinhamento completo” dele com o presidente.
Nelson Teich é médico oncologista e foi consultor da área de saúde da campanha à Presidência de Jair Bolsonaro em 2018. Carioca, Nelson se formou em medicina pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
Ele chegou a ser cotado ao Ministério da Saúde à época. Além disso, assessorou o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, de setembro de 2019 a janeiro de 2020.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.