A prefeita de Mundo Novo (MS), Dorcelina de Oliveira Folador (PT), tinha 36, e foi assassinada às 23h de um sábado, 30 de outubro de 1999, com seis tiros, um na clavícula esquerda e cinco no lado esquerdo das costas, na varanda de sua casa, no bairro Copagril, onde ela morava.
Dorcelina, ex-sem-terra e integrante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), havia denunciado o que chamava de “máfia” que comandava a cidade, que, segundo ela, tinha envolvimento com o narcotráfico, contrabando de armas e até com o tráfico de crianças para o exterior. A população da cidade, com cerca de 16 mil habitantes na época, no extremo sul do Estado, perto da fronteira com o Paraná e o Paraguai (470 km ao sul de Campo Grande), foi em massa ao seu velório. A Polícia Militar calcula que 6.000 pessoas passaram pelo ginásio de esportes Antônio Alves Moreira das 11h, horário em que o corpo chegou, até as 17h. Em recente pesquisa encomendado pela prefeitura, Dorcelina tinha 83% de aprovação popular.
Os apoiadores da prefeita afirmam que ela, além de ter conseguido “moralizar” a administração pública, estava realizando diversas obras, trouxe 11 indústrias de médio e pequeno porte para o município e foi responsável pela implantação do primeiro projeto Bolsa-Escola no Estado. O governador do Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, o presidente de honra do PT, Luís Inácio Lula da Silva, e o presidente nacional do partido, José Dirceu, vieram para Mundo Novo logo que souberam do crime, e disseram acreditar que se tratava de um “crime político”. Zeca e Lula não quiseram falar sobre as pessoas que teriam interesse em matar a prefeita. Dirceu considerou a possibilidade de relação dos assassinos com traficantes e afirmou que, se a Polícia Federal achar algum indício de ligação do crime com o tráfico de drogas, vai solicitar investigação à CPI do Narcotráfico. Além do governador, o vice, Moacir Kohl (PDT), deputados federais, estaduais e secretários de Estado viajaram até Mundo Novo, para o velório da prefeita assassinada.
Há informação de que a Polícia Civil do Estado está mobilizada para apurar a autoria do crime. Também dois delegados da Polícia Federal, a pedido da direção do órgão, já se prontificaram para apurar o caso. A PF se comprometeu à época em investigar o paradeiro de um carro com placas do Paraguai que esteve rondando a prefeitura no sábado. Há a possibilidade de que os ocupantes desse veículo tenham tido participação no assassinato. Policiais federais teriam solicitado para a polícia paraguaia entrar nas investigações.
O Crime – Dorcelina estava sentada na varanda da residência, na rua Marechal Floriano Peixoto, 52, no bairro Copagril, quando foi atingida. Morreu na hora. O autor dos tiros usou uma pistola automática calibre 380. Para fazer os disparos, ele subiu em uma escada em um terreno vizinho abandonado para transpor um muro de 1,8 metro. Os tiros aconteceram de uma distância de aproximadamente três metros. A polícia não acredita que ele tenha agido sozinho, apesar de ninguém ter testemunhado a fuga dos criminosos.
O marido, Cezar Folador, 44, estava na edícula da casa no momento do assassinato. As filhas, Jéssica Winnye, 8, e Indira Meirieli, 4, vendo televisão. Folador afirmou que, quando ouviu os disparos, correu em direção à mulher, mas já a encontrou morta. Depois, foi até as filhas e telefonou para o irmão, Itamar Folador, avisar a polícia, “porque no desespero eu não lembrava o número”. O enterro aconteceu às 11h, no cemitério municipal. Contou com a participação do governador Zeca do PT e de outros líderes petistas, e do MST. (Reportagem da F. de S. Paulo, com adaptações)