A pesca milagrosa ocorreu no célebre lago chamado de Mar da Galileia, um local muito importante na vida pública de Jesus. Geógrafos e historiadores têm publicado diversos estudos acerca desse lago, que fica situado no vale do Jordão. O Mar da Galileia está magnificamente encravado entre as montanhas que o circundam; logo ao norte a paisagem é dominada pelo monte Hermom, com seu cume coroado de neves eternas.
O solo fértil da região, em torno de suas margens, a vegetação, as montanhas e o azul anil de suas águas, fazem deste um local belíssimo, encantador que cativava e fazia muitos apaixonados por viver na Galileia. Pescar no Mar da Galileia era de vital importância econômica para as nove cidades às suas margens e também era para os discípulos de Jesus. As cidades da Galileia refletiam a importância da pesca para a vida econômica da época. Tiberíades enviava carregamentos de peixe para Jerusalém e exportava para Roma. Em Betsaida, “casa da pesca, em hebraico”, a maior parte das pessoas trabalhava com a pesca. Os grandes cardumes, encontrados perto da costa, eram o paraíso dos pescadores. No tempo de Jesus, centenas de barcos jogavam suas redes. O pescado era sempre salgado, pois não havia outra forma de conservar o alimento.
As condições de pesca mudavam muito, de acordo com as variações do lago. Os pescadores eram pessoas simples e de pouca instrução. Homens fortes, queimados pelo sol e vento. Viviam para esse ofício, noites inteiras sem dormir, contínuo lançar de redes, e preparados para as repentinas tempestades, esses homens navegavam sobre as ondas.
Durante a pesca, eles se alimentavam de pão, peixe e água. As redes usadas na pesca milagrosa eram penduradas dentro d’água num complexo de três redes, lançadas em alto mar. São necessários quatro homens para que as redes sejam lançadas ao mar. Os pescadores afastavam-se da rede e se reaproximavam um tempo depois, agitavam as águas com os remos para tocar os peixes para dentro delas. Eles voltam a procurar em outros lugares, onde tiveram mais sorte anteriormente. Novamente lançavam as redes e, ao levantá-las, experimentavam a mesma decepção.
Somente a paciência lhes dava a força necessária para aguentar noites inteiras de insucesso. Cansados, abatidos no corpo e na alma, desciam na praia para limpar as redes e consertar os rasgos. O dia de trabalho dos pescadores não terminava com o retorno à costa. Os homens ainda precisavam consertar e lavar as redes do lodo e galhos que nelas se prendiam, salgar o peixe, fazer manutenção nos barcos e equipamentos e negociar com os mercadores. Uma atividade que exigia muitas e cansativas horas.
O registro de Lucas: “E viu estar dois barcos junto à praia do lago; e os pescadores, havendo descido deles, estavam lavando as redes.” De repente, quando Jesus estava caminhando pelas margens do Mar da Galileia, foi rodeado por uma grande multidão, ávida para ouví-lo. Dois barcos estavam amarrados na praia. Os pescadores lavavam e limpavam suas redes. Os donos eram Simão Pedro e Zebedeu, pai de Tiago e João. O Mestre observa aqueles desanimados pescadores, cansados de uma noite inteira de trabalho. Já era dia e eles ainda trabalhavam, retirando ervas e lodo das malhas de suas redes. Jesus pregando à multidão, não deixou de notar a dificuldade que Seus discípulos passavam. O sustento de suas famílias, o alimento que necessitavam, o pagamento dos impostos ao Império Romano. Outra vez, Lucas: E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidão.” Jesus espremido pelo povo, ensinando, sobe no barco de Pedro e se distancia um pouco da margem, senta-se e fala à multidão daquele púlpito improvisado, num lindo cenário que balançava suavemente sobre as ondas. No final, disse a Pedro: “Vai ao mar alto e lançai as vossas redes!”. Esta ordem era literal e ao mesmo tempo alegórica, pois tinha também a finalidade de ilustrar uma verdade espiritual que Pedro estava precisando.
Lucas escreve outra vez: “E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar.” Pedro declara que ele e seus companheiros não conseguiram nada apanhar durante a noite, o melhor período para a pesca. Naquele momento da ordem de Jesus, as circunstâncias não eram favoráveis para se pescar. Pedro, um pescador profissional, acostumado a seguir seus instintos de exímio pescador, e experimentado trabalhador do mar, num esforço sobrecomum, deixa de lado a sua percepção humana e passa a confiar somente na palavra de Jesus.
Novamente, o médico Lucas: “E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a Tua palavra, lançarei a rede.” Incia ele o aprendizado em crer e confiar na providência de Deus. No ponto desejado pela ciência divina de Jesus, foi lançada a rede. Apanharam tantos peixes que, ao tentar retirar a rede da água, as malhas começaram a se romper. Pedro e seus companheiros fizeram um sinal aos filhos de Zebedeu, que estavam noutro barco próximo, para que viessem ajudá-los.
O relato do evangelista, diz: “E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique.”
As duas embarcações se encheram de tal forma que o peso ameaçava naufragá-los. Por mais acostumados que estivessem com boas pescas, eles reconheceram a pesca milagrosa como um extraordinário e raro acontecimento. Neste momento de tanta emoção, Pedro se lança aos pés do mestre Jesus, movido de temor diante daquele que se mostrava como o Filho do Homem. Pedro entendeu que a obra era de Deus, confessando a sua incapacidade de estar diante do mestre incomparável, pois Jesus era o Santo do Altíssimo.