Depois do batismo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado. Esta tentação tem uma relação direta com a missão que Ele recebeu e que fora revelada às margens do rio Jordão. Segundo Mateus e Lucas, Jesus passa no deserto quarenta dias, que simbolizam os quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto do Sinai. A tríplice tentação de Jesus lembra as tentações do povo de Deus durante o Êxodo e à entrada na Terra Prometida. Jesus faz suas as tentações que Israel conheceu e que são as de qualquer homem. Obedecendo à vontade do Pai e apoiando-se nas Escrituras, Ele resiste sem fraqueza e, pela força do Espírito Santo, vence o inimigo.
A tentação de Jesus é por excelência aquela de que fala o livro do Génesis: “ser como deuses”; a tentação do orgulho radical que tem ciúme de Deus, desejo de referir tudo a si mesmo, de não depender de Deus. O tenebroso “príncipe deste mundo” apresenta a Jesus uma estratégia triunfalista, um falso messianismo feito de milagres clamorosos, como transformar as pedras em pão, lançar-se do alto do Templo com a certeza de ser salvo, conquistar o domínio político de todas as nações. Jesus rejeita todas as tentações. Diz “não” à falsa prosperidade material, porque “nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Diz “não” à ambígua popularidade obtida através do milagre espetacular, porque não se deve instrumentalizar Deus em função das nossas necessidades de segurança. Diz “não” à ambição do poder temporal, porque a verdadeira libertação do homem nasce do coração. A sua natureza de Filho de Deus manifesta-se não através da posse, na exibição de poder e domínio, mas no serviço humilde, no perdão, no amor, e na entrega de si próprio na cruz.
A tentação foi real para Jesus. Ele “foi provado em tudo, à nossa semelhança, exceto em relação aos nossos erros. Mesmo mais tarde, irá experimentar a tentação da violência na hora da paixão e será desafiado a descer da cruz para exibir o seu poder.
As forças do mal vêm sobre as pessoas com uma miríade de tentações, mas todas têm as mesmas coisas em sua essência: a concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida. Só é possível reconhecer e combater essas tentações ao saturar os corações e as mentes com a verdade. A armadura de um soldado na batalha espiritual inclui apenas uma arma ofensiva, a espada do Espírito, ou seja, a Palavra de Deus. Essa armadura é a própria espada colocada nas mãos e que capacita guerreiro a ter vitória sobre as tentações.
A respeito do assunto, o apóstolo Paulo disse ao amigo Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja bem a palavra da verdade.” É este o conselho apostólico para que a pessoa possa vencer todas as tentações do dia a dia.