A ideia de que o dízimo é obrigatório nas igrejas cristãs da atualidade é questionada em muitos segmentos do Cristianismo moderno. Há pregadores afirmando enfaticamente que “… se o adepto não entregar o dízimo, está roubando a Deus e fica sob a maldição, de acordo com o profeta Malaquias.
O dízimo, antes da Lei – Há duas passagens bíblicas que falam sobre o dízimo sendo dado antes que a Lei fosse instituída no Sinai. As passagens envolvem Abraão e Jacó, dois dos patriarcas de Israel. “… o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei.” – “… Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho, e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.” Aqueles que crêem que o dízimo é para os crentes do Novo Testamento argumentam que, uma vez que o dízimo foi praticado antes que a Lei Mosaica fosse dada, ele forçosamente também tem que ser praticado depois da Lei Mosaica. No entanto, antes que cheguemos a qualquer decisão dura e apressada, é preciso analisar com cuidado o contexto da matéria. Genericamente, Abraão, de maneira voluntária quis pagar dízimos a Melquisedeque, provavelmente tenha feito um voto pessoal, após uma vitória militar.
O dízimo exigido sob a Lei Mosaica era sobre o lucro da colheita, dos frutos e dos rebanhos, e para ser dado em uma base anual, e não o despojo de uma vitória militar. Também Jacó fez um voto: “… se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; de tudo quanto me der, certamente te darei o dízimo. Estes são os únicos exemplos de dízimo que podem ser encontrados no Velho Testamento, antes da Lei ser dada.
O dízimo não era o dar dinheiro, mas parte do produto da terra, da semente do campo, do fruto das árvores, do gado, e do rebanho. Cada ano, depois que a terra tinha sido colhida, as pessoas traziam para os sacerdotes as décimas partes de suas colheitas e do aumento na manada e no rebanho As Escrituras Cristãs, em parte alguma, enfatizam que dizimar era dar dinheiro para Deus.
O povo de Israel devia usar o dízimo para comer na presença do Senhor, em Jerusalém. Se fosse incômodo para as pessoas de longe trazerem seus dízimos até Jerusalém, seria permitido que elas trouxessem o dinheiro para comprar o necessário para os festivais referidos. O “Dízimo para o Festival” tornou possível ao povo de Israel ter comida e bebida necessárias para as festas religiosas de Israel, e adorar o Senhor.
“O Dízimo para os Pobres”: ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; e virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo) e, o estrangeiro, e órfão e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão…
Em muitos aspectos, parece que o dízimo exigido sob a Lei é hoje similar à taxação que o governo impõe sobre as pessoas. Israel era governado por uma teocracia. Sob ela, o povo era responsável por prover para os trabalhadores do governo, assim como os sacerdotes e os levitas, para os dias santificados. Estes dízimos não eram voluntários como o foi nas vidas de Abraão e Jacó.
Nos dias de Neemias, homens eram indicados para ajuntarem as ofertas e os dízimos em câmaras designadas para aquele propósito particular. Estas câmaras eram para os bens armazenados, e depois se tornaram conhecidas como “casas do tesouro”.
Malaquias 3:8-12: “… trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim!” Estes “dízimos” têm que se referir aos diferentes dízimos requeridos do povo de Deus – o Dízimo para o Levita, o Dízimo para as Festas ao Senhor e o Dízimo para os Pobres. Deus não está condenando o reter apenas dos dízimos, mas também das ofertas. Portanto, é certo que as bênçãos e maldições escritas em Malaquias 3:8-12 referem-se às bênçãos materiais que Deus prometeu a Israel, se obedecesse seus mandamentos e estatutos. O dízimo foi um destes mandamentos.
Se alguém deseja dar o dízimo, de acordo com as Escrituras Cristãs, teria que fazer o seguinte: deixar seu trabalho e comprar uma terrinha, de modo que possa criar seu gado e plantar e colher; encontrar algum descendente de Leví, que realmente seja sacerdote, no Templo; usar suas colheitas para observar as festas religiosos do Velho Testamento, tais como páscoa, pães asmos, pentecostes, tabernáculos; começar dando pelo menos 20 por cento de todas as suas colheitas e rebanhos; e, esperar que Deus amaldiçoe sua nação [em oposição ao próprio crente com insuficiência material, se ela for infiel, ou a abençoe com abundância material, se for fiel. Deus aboliu o sacerdócio levítico, os sacrifícios de animais, e as festas religiosas, e outras exigências da velha aliança, como é o caso do dízimo..
Os escritores do Novo Testamento, em nenhum momento, deram ênfase à doutrina do dízimo como ocorria nos tempos do Antigo Testamento. No evangelho de Mateus 23.23, Jesus se referiu à questão do dízimo por causa dos fariseus que deviam dar o dízimo, motivados pelos antigos costumes judaicos. Na morte de cruz, o Mestre Jesus fez a Obra Completa, incluindo a isenção do pagamento do dízimo.
O escritor aos hebreus mencionou a questão do dízimo não como um ato obrigatório, e sim para lembrar o compromisso dos antepassados, quando este era mandamento, ordem para todos os judeus. Diz ainda: “ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior. Aqui, certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive. E, por assim dizer, por meio de Abraão até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos. O objetivo do autor é mostrar a superioridade do sacerdócio de Jesus sobre o sacerdócio levítico e, portanto, exortar seus leitores para não retornarem às suas formas judaicas de adorar.
Não há, nem sequer uma só palavra em todo o Novo Testamento que ordene ou mesmo sugira que se espera que os Seguidores de Jesus, dentro do Novo Pacto, paguem dízimos. O dízimo pode representar um fardo pesado para os verdadeiros adoradores, como na antiga aliança, quando era exigência legal.
Sem constranger quem quer que seja, a contribuição nos templos devem ser voluntárias, como foi bem lembrada a atitude da viúva pobre. O apóstolo dos gentios, disse: “ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia: no primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar.” E nos Atos: “… os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judeia. …”
O Novo Testamento ensina que Deus deixa a nós o poder de decisão sobre o valor das nossas contribuições. É bom dar em proporção aos nossos meios e como Deus nos tem feito prosperar. É deveras libertador, quando consideramos as táticas manipulativas que alguns “espartalhões” aplicam para “arrancar” dinheiro de incautos adeptos, pela absoluta falta de conhecimento.
É bastante claro que uma das prioridades da oferta no Novo Testamento é satisfazer as necessidades dos santos; satisfazer as necessidades dos obreiros cristãos; além de se usar o dinheiro para satisfazer as necessidades dos irmãos e irmãs, que sejam necessitados. Paulo sugere a Timóteo: “honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas.”
O próprio Deus nos tem dado sua aprovação para usarmos nosso dinheiro para o sustento de fiéis obreiros na Seara do Mestre. E, finalmente, o apóstolo Tiago exclama: “a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.”
As Escrituras não ensinam que o dízimo é obrigatório sobre os crentes na atual dispensação. No entanto, as Escrituras Cristãs ensinam que os filhos de Deus devem ser generosos quando ofertam. Se alguém ainda tem dúvida sobre a forma de contribuir, é aconselhável buscar a Deus em oração, para entender o propósito divino na questão financeira.
Parafraseando o célebre V. Gilbert Beers, autor da obra “Viaje através da Bíblia”, pode-se ainda considerar que “o dízimo era conhecido também em outras nações. Às vezes, era religioso, mas com frequência, era um imposto. Os egípcios, por exemplo, pagavam uma quinta parte de suas colheitas ao Faraó.”