Sucedeu depois destas coisas que, Nabote, o jizreelita, tinha uma vinha em Jizreel junto ao palácio de Acabe, rei de Samaria. Acabe falou a Nabote, dizendo: “Dá-me a tua vinha, para que me sirva de horta, pois está vizinha ao lado da minha casa; e te darei por ela outra vinha melhor: ou, se for do teu agrado, dar-te-ei o seu valor em dinheiro.” Porém Nabote disse a Acabe: Guarde-me o Senhor de que eu te dê a herança de meus pais.”
Havia um homem chamado Nabote que viveu nos tempos de Acabe, o sétimo rei de Israel. Este homem possuía uma vinha, ou seja, um terreno que herdara de seu pai com uma lavoura de uvas na sua propriedade, que por acaso era vizinho da casa de Acabe em Jizreel.
Os judeus tinham leis acerca da manutenção do patrimônio de família, que um homem deveria fazer todo possível para que a herança de seu pai pudesse seguir na sua família. Quando uma família era muito pobre e tivesse que vender a sua herdade havia uma garantia que a cada cinquenta anos a terra voltaria a ser posse do vendedor, mesmo que este não tivesse como comprar de volta a terra. No quinquagésimo ano o comprador teria que devolver, pois a herança daquela família não devia ser desfeita.
Por estas razões Nabote disse que se vendesse a sua vinha estaria pecando contra seu pai, e contra uma ordenança de Deus. Além disso, as videiras tinham uma vida longa e é possível que esta vide tenha sido cultivada pelo seu pai tendo assim um valor sentimental incalculável. Era o legado da geração passada que Nabote tinha que deixar para a geração futura. A videira produzia vinho, sucos, e mel de uvas, que é um xarope feito a partir do suco da uva. Assim, por alegoria a videira era a alegria de Nabote. A vinha representava a sua comunhão com Deus e com seus pais, sendo também uma fonte de renda como se fosse propriedade de Deus. Nabote não aceitou uma quantia em dinheiro ou o terreno maior que escolhesse, por ser temente a Deus pois o rei tinha poder para lhe dar o que pedisse.
Acabe era um rei mau aos olhos de Deus e sendo casado com uma rainha pagã que não tinha temor de Deus foi por ela conduzido ao erro. Então, Jezabel, sua mulher lhe disse: Governas tu agora no reino de Israel? Levanta-te, come pão, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote, o jizreelita. A promessa de Jezabel para Acabe é que ela lhe daria a vinha, e com o anel do rei ela mandou cartas para ajustar a morte de Nabote. Acabe deu sua autoridade e identidade para uma mulher sem temor e sem sabedoria de Deus, tornando-se assim tão culpado pela morte arranjada de Nabote quanto as pessoas que realmente o mataram. Jezabel era má e idólatra, desprovida da graça de Deus. Uma mulher tem poder no seu lar para edificar ou para destruir. “Toda mulher sábia edifica a sua casa; mas a tola a derruba com as próprias mãos.” (Provérbios)
No caso, Jezabel tramou a morte de Nabote com um julgamento arranjado, ajustando testemunhas mentirosas afirmando que ele teria pecado contra seu rei e seu Deus. “E escreveu nas cartas, dizendo: Apregoai um jejum, e ponde Nabote diante do povo. E ponde defronte dele dois filhos de Belial, que testemunhem contra ele, dizendo: Blasfemaste contra Deus e contra o rei; e trazei-o fora, e apedrejai-o para que morra.”
Nabote foi fiel até o fim, apesar de morto pelos anciãos da sua cidade, por um crime que não cometeu. Ele não renunciou à obediência e a sua alegria na comunhão com o seu Deus. Nabote sempre soube que a vinha era do Senhor; ele apenas era um mordomo que deixaria para seus filhos um legado. Com sua morte, a vinha ficou sem dono e Acabe veio a tomá-la. Pela lei da semeadura, o que o homem plantar isto colherá, e após ter matado juntamente com sua mulher a Nabote, Acabe tinha atraído sobre si um julgamento inevitável. O sangue inocente de Nabote derramado após um julgamento arranjado com testemunhas falsas, clamava como o sangue inocente de Abel que depois de morto pedia por justiça diante do Senhor, o supremo juiz.
Jezabel atraiu para si a mesma condenação, pois após a morte de Nabote Deus envia seu servo Elias “Jeová é Deus” para pronunciar juízo sobre Acabe. “Levanta-te, desce para encontrar-te com Acabe, rei de Israel, que está em Samaria; eis que está na vinha de Nabote, aonde tem descido para possuí-la. E falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o Senhor: Porventura não mataste e tomaste a herança? Falar-lhe-ás mais, dizendo: Assim diz o Senhor: no lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote lamberão também o teu próprio sangue. Como ocorreu com Nabote, o rei ficaria sem descendência , ao tentar tomar a herança de seu súdito, ele ficou sem herdeiros na terra. Nabote estava com Deus na glória e sua vinha estava livre das garras do inimigo, pois acima de tudo Deus está no controle.
O julgamento de Jesus também foi arranjado como o de Nabote. “E os principais dos sacerdotes e todo o concílio buscavam algum testemunho contra Jesus, para o matar, e não o achavam. Porque muitos testificavam falsamente contra Ele, mas os testemunhos não eram coerentes. As testemunhas que mataram Nabote eram filhos de belial, deus pagão do vinho e bebidas fortes, eram bêbados assim como aqueles que testemunharam contra o mestre Maior, Jesus de Nazaré.
Jesus é a vinha e o Pai é o lavrador. “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.” O espírito de Jezabel ainda vive nos meios celestiais, sendo citado por Jesus no Apocalipse . “Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria.”
Nabote não renunciou sua comunhão em troca das ofertas do mundo; Jesus não deixou de trabalhar na vinha do Pai, e nós, somos desafiados todos os dias, a seguir o mesmo caminho de obediência e resistência a toda espécie de mal. Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele precedem as saídas da vida.