Os missionários Virgil Smith e Orlando Boyer eram companheiros e trabalhavam viajando a cavalo, evangelizando e vendendo bíblias de casa em casa no sertão de Pernambuco e Alagoas. Naquele sertão conturbado pelo cangaço, em 1930, Virgil e sua esposa Ramona foram feitos reféns de Lampião e seu bando. Orlando Boyer foi comunicado que, para obter a libertação do amigo, teria de pagar uma elevada quantia.
Eram grandes as dificuldades econômicas da época, mas Orlando Boyer conseguiu reunir uma fração mínima da quantia exigida. Elle foi ao encontro de Lampião, embora soubesse que corria perigo de morte.
Cara a cara com o temido rei do cangaço, explicou a situação, para profunda decepção dele e de seu bando. Orlando Boyer se ajoelhou humildemente e sugeriu uma proposta ousada. Ele implorou para ficar no lugar do amigo Virgil, para morrer em seu lugar, uma vez que o casal tinha filhos pequenos demandando cuidados.
Diante do consentimento de Lampião, Virgil Smith perguntou se poderia oferecer-lhe um presente. Então, estendendo-lhe a mão, ofereceu uma bíblia de letras grandes, cujo presente foi recebido prontamente por Lampião. Disse ao cangaceiro: “este livro conta a história de Jesus, que por amor ofereceu a sua própria vida para que fôssemos salvos. Ele era Deus e se fez homem, morrendo em nosso lugar para que pudéssemos ter vida. O que o meu amigo Boyer está fazendo por mim agora, Jesus já fez por todas as pessoas, inclusive pelo senhor Virgulino. Ele morreu para que sejamos perdoados e salvos do pecado e da morte”.
Lampião ficou visivelmente emocionado com aquele exemplo de abnegação e amor, voltou-se para o lado e passou a manga da camisa nos olhos, para enxugar disfarçadamente as lágrimas. Virou-se e disse bruscamente: “Podem ir embora, depressa, vão embora!” E, retirando-se com seu bando, levou consigo a bíblia.
Dias depois, perseguido pela polícia, Lampião deixou a bíblia no tronco oco de uma árvore, para poder fugir mais depressa. Quando voltou ao lugar, não encontrando a Bíblia, dirigiu-se ao fazendeiro dono daquelas terras e exigiu que este a devolvesse. Embora o fazendeiro tivesse dito que nada sabia a respeito, Lampião marcou o prazo de uma semana para tê-la de volta. O fazendeiro teve de dirigir-se à cidade e comprar outra bíblia para Lampião.
Não há informação se Lampião leu a Bíblia. Pelo menos, até a sua morte, ele teve oito anos para fazê-lo. Assim, se ele a tivesse lido, saberia que a bíblia é a maravilhosa “biblioteca” inspirada por Deus, e descobriria o que Jesus afirmou: “A tua palavra é a verdade!”
Como Lampião tinha a alma ferida, ele saberia que, aos feridos pelos delitos e pecados, a bíblia é um bálsamo consolador que cura as feridas interiores. Para os famintos, é o pão que alimenta a alma; aos sedentos, é a água que sacia a sede espiritual; aos que estão em conflito, é a espada para a luta contra o mal; aos amargurados, é o mel que os faz enfrentar o mundo sem perder a doçura.
Lampião era um homem aflito e desesperado. Se tivesse lido a bíblia, saberia que ela lhe oferecia uma mensagem de esperança e conforto. Lampião, tido como “homem de palavra”, sabia que a importância de qualquer palavra dependia de quem falava. Se tivesse lido a bíblia, poderia confiar nela, pois o Deus que inspirou “a Palavra” nunca mente e jamais muda, e todas as suas promessas têm o sim em Jesus.
(Texto de Samuel Câmara, pastor da Assembléia de Deus Belém / PA – Igreja Mãe, com adaptação para esta Coluna)