Papai, nunca fui poeta mas quero escrever em verso,
tanto tempo de sucesso a vida me proporcionou!…
Chegou o dia da partida, de maneira tão fatal,
uma coisa desumana e desigual, minh´alma chorou!
No descanso permitido, noutra dimensão da vida,
estou viajando em paz, planície e linda avenida:
pai e mãe, irmãos e amigos, a ferida já sarou!…
O impacto foi medonho naquele dia cruel,
eu olhava para o céu, mas a dor me atormentava!
Confesso, mágoas não mais existem em mim
estou num belo jardim, a alma está sossegada!
É difícil a compreensão aos humanos no momento,
todo o pesar, enfim, toda dor e todo sofrimento
já estão dissipados e minha alma está curada!
Existe um grande mistério ainda a ser revelado,
ninguém entende esse lado! Por que a fatalidade?
Sou pleno em todo o meu ser, e cumpri a missão!
Sou milenar em evolução, embora com pouca idade!…
Eu posso perceber as lágrimas em cada face;
Pai e mãe, irmãos, filhinhos, a amada sem disfarce,
os amigos querem saber muita coisa. É saudade!
Não convém especular a causa da tragédia e maldade!
Era a hora para a crueldade, a traição sempre existiu…
O tempo dará a resposta, se achar que deve ser assim!
O silêncio está em mim, a vingança há muito se esvaiu.
O corpo fica na tumba, nunca morre a lembrança;
mas a alma no além repousa firme na esperança…
tem sentimento, vivendo a realidade de tudo o que viu!
“Como é em cima é embaixo”, isso papai sempre diz,
aqui estou bem feliz! Não existe dor, continua a alegria!
É inexplicável a vida no Espírito, quando tantos choram!
Muitos ainda imploram, pela separação que angustia!…
Nesse imenso espaço sideral há muito o que fazer!…
os seres estão em atividade e ninguém mais vai morrer.
“Paz Profunda e Vida Abundante”, é a Ordem do Dia!
(Castro Alves in Versos do Coração, às 8h30 de 18 de outubro de 2016)