A Rua 14 de Julho, em Campo Grande, foi tomada e por vários quarteirões milhares de pessoas reuniram-se como se fosse um carnaval fora de época. Essa festa toda, comemorada há 39 anos, foi para celebrar a criação de Mato Grosso do Sul. O ato de emancipação, oficializado com a lei complementar nº 31/1977, foi assinado pelo então presidente militar Ernesto Geisel, em Brasília, pouco antes do meio-dia.
A data que se repete hoje não tem a mesma euforia de décadas atrás e a celebração é completamente mais tímida. Os sul-mato-grossenses lutam pela identificação e reafirmação do Estado e da cultura, enquanto os “estrangeiros” de outros locais vão chegando e se acomodando.
“O que marca Mato Grosso do Sul é a multiculturalidade, a presença de pessoas de outros estados. Paulistas que vieram para cá para ‘ganhar dinheiro’, mas acabaram ficando. Os paranaenses que foram retirados das terras na época da construção da usina de Itaipu e se mudaram para cá porque a terra era barata e tantos outros”, analisou a historiadora sul-mato-grossense Alisolete Antônia dos Santos Weingartner.
Ela, inclusive, fez parte da história de criação do Estado ao participar da festa na Rua 14 de Julho no dia 11 de outubro de 1977. “O pessoal chegou um pouco antes do meio-dia e a passeata foi até madrugada. Estavam lá políticos dos mais renomados a trabalhadores anônimos que decidiram comemorar a criação da nova capital do Brasil”, recordou Alisolete.
A celebração daquele ano teve bandeirinhas, muito tereré, música ao vivo, apresentação de bandas marciais e camisetas alusivas à data.
A especialista apontou que a emancipação foi um processo que teve início em maio de 1898, quando coronéis tentavam garantir independência territorial que era travada com a Companhia Matte Larangeira, uma empresa que surgiu com concessão imperial para exploração da erva-mate na então região sul de Mato Grosso.Thomaz Larangeira garantiu o benefício e o poder porque financiou o Brasil na Guerra do Paraguai.
“Ainda hoje tem gente que tem vergonha de falar que é sul-mato-grossense. Não é em todo o Estado que existe esse sentimento de pertencimento. Muitas vezes fala até que é de São Paulo, mas sem nunca ter ido à capital daquele estado. Faz parte de um processo”, explicou a historiadora.