Uma pequena centelha na história do transporte fluvial do famoso Rio-Mar
Muitas águas tem esse caudaloso Rio Paraná. É ele um rio-mar e suas cachoeiras são uma maravilha. Os sonhos de criança ampliam-se na contemplação do famoso Rio Paraná nas tardes purpurinas. A história desse rio se remonta de séculos e através de seu leito tem-se transportado o progresso, gerando estórias e muitas lendas que passam de geração em geração. Muitos episódios aconteceram às suas margens, cujo relato dariam para escrever uma montanha de livros. Fica aqui, de maneira objetiva registrada a sua imensidão apologética, com suas belezas mil que levam os nossos pensamentos para um passado de glória no vislumbre das grandes Sete Quedas.
De um lado, a cidade de Guaíra e do outro, a República do Paraguai e Mundo Novo, uma cidade florescente. Com detalhes, são emocionantes as estórias contadas a respeito do transporte fluvial na região, com nuances que jamais podem ser esquecidos, sobretudo a respeito da forma primitiva como era feito o transporte no Rio Paraná. Pequenos botes e bateias, e mais tarde as grandes balsas, que transportavam as pessoas e veículos de uma margem à outra, onde muitas ocorrências foram registradas, Podem também ser lembradas as “pirogas” indígenas, muito comuns nos tempos idos e que serviam para o transporte rudimentar e perigoso nas águas manas do caudaloso rio. As canoas vieram depois, um pouco melhoradas, seguidas de bote a remo.
“Era uma penúria”, comentam os mais antigos desta região, em seu linguajar modesto e realístico. Dentre tantos fatos, destacamos um diálogo durante a travessia de balsa, que aconteceu há muito tempo, muito antes da inauguração da Ponte Ayrton Senna, que aconteceu em 24 de janeiro de 1998, custando R$ 32 milhões de reais ao governo do Paraná. O suposto diálogo teria sido mais ou menos assim…
O Encontro de Bentinho com Germino
Bentinho: Ué, Germino, ocê aqui, rapaz!
Germino: É, cheguei ontem à noitinha, mas não tive coragem de fazer a travessia na “canoinha” de remo, e resolver esperar o dia amanhecer para seguir meu destino até Mundo Novo, do outro lado do rio.
Bentinho: Moço do céu, num foi fácil chegar aqui: muita serração, mas tô alegre por encontra ocê aqui!
Germino: Meu amigo Bentinho, eu acabo de chegar de São Paulo e quero morar nesta região. Dizem que é muito bom viver neste lugar, onde os passarinhos e os animais silvestres são os nossos melhores amigos. Onde ocê mora mesmo?
Bentinho: Eu? Eu moro num lugá de Deus, muito abençoado e pertinho de mim estão os índios guaranis. Só ocê vendo prá acredita: É Jacareí, água de jacaré!
Germino: Muito bem “seo” Bentinho. Foi um prazer ver ocê com saúde, mas canoa tá saindo, e eu preciso ir. Inté!…
E assim tem sido o trivial da travessia, com muitas prosas pitorescas ao longo dos estágios do transporte fluvial no lendário “Paranazão”. Muitas e muitas etapas têm sido percorridas, quando se ouve o sussurro das ondas bravias nas noites de lua ou escuras, que centenas de vezes deixavam os passageiros em aperto, obrigando-os a buscar refúgio nas ilhas existentes e a proteção em alguma Divindade. Foram muitos os momentos de pesadelo vividos pelos que utilizavam o transporte fluvial entre as duas cidades. Vidas foram ceifadas no trecho e noutros pontos do grande rio, como as cachoeiras das Sete Quedas, bonitas mas assassinas. Nessa época, o transporte já era feito por grandes botes a motor, quando tristes fatos aconteciam no trajeto, mesmo com o profissionalismo de alguns pilotos, como o Velho Teixeira, que presenciou muitas tragédias.
Num período de dez dias, em 1973, naufragaram duas embarcações com mais de duas dezenas de vítimas, e apenas um sobrevivente, o João Mandi. De repente, uma vaga notícia: alguém morre afogado nas águas do Rio Paraná.
Na atualidade, a coisa mudou. O sistema de transporte fluvial é melhor, bem mais avançado. A Ponte Ayrton Senna veio para mudar a vida de muita gente. Inaugurada em 1998, passou a ser um cartão de visita para Mundo Novo, Guaíra e para Salto Del Guairá. Centenas de carros cruzam diariamente transportando o progresso do País. Ficou para todos nós a lembrança dos velhos tempos, quando se esperava na “beira” do rio a chegada da balsa da Empresa F. Andreis, que transportava os pequenos veículos e as cargas pesadas, enquanto as pessoas perdiam a pressa para ir e vir, pela delonga desse meio de transporte, que custava caro.
Aqueles diálogo que aconteciam durante o percurso, já não existem mais. Os assuntos eram variados, desde a pescaria até a situação econômica de cada um e do Brasil. Ali estavam também os pedintes e alguns aventureiros, que arriscavam tudo para ter uma vida mais fácil, como aqueles famosos tabuleiros de jogos, onde dezenas de pessoas eram ludibriadas, e perdiam o dinheirinho que levavam. Os mais caridosos metiam a mão no bolso e arrancavam algumas notas amareladas para dar aos necessitados.
Rememorando o passado, eis um diálogo na balsa:
– Placa de Altamira, Gil, disse o Samir.
– Ah, Samir, ali tem um carro de Arapiraca. Vamos falar com essa gente e ver o que eles transportam?
– Você é muito curioso, Gil, mas…
– Vamos então? É aquele moço gordo que está com o caminhão de Arapiraca e quem conduz a camioneta de Altamira é aquele sujeito “pau-de-fumo”..
Como é que você vai começar o papo, Gil? Veja que são homens estranhos. Certamente você vai querer saber o que eles estão levando…
– Exatamente, Samir! E Gil começa a conversa com o motorista…
– Bom Dia, amigo! O motorista responde: bom dia.
– O senhor está vindo de longe, hein?! De Arapiraca! É, venho de muito longe!…
– O que o senhor faz por estas bandas e o que carrega?
– Moço, hoje eu não estou muito bom. Estou mesmo chateado, levo f…
– Gil: desculpe-me, senhor! Obrigado…
A segunda entrevista não foi possível, pois Gil já ficou desorientado com a primeira. O Samir, numa conversa animada, falava sobre uma ponte que seria construída no local.
– Dr. Bichofe lhe perguntou: Samir, parece que agora sai mesmo a tal ponte?
– Samir: eu li alguma coisa na imprensa esta semana. Vi no jornal Tribuna do Povo! E questionou: dizem que vai ter até ferrovia sobre o rio!…
Dr. Bichofe: Tudo vai melhor por estas bandas, para colocar um fim às barreiras no transporte fluvial nesta região. Tem urgência a construção da ponte, medida que vai favorecer toda a população daqui que sofre muito com a Travessia no Rio Paraná. (JLA)