De repente, o chamado urgente: a mãe foi colocada no asilo pelo filho logo depois que o pai morreu. De quando em vez ele aparecia para uma visita, o que deixava a pobre mulher muito triste e decepcionada. Certo dia, eis que o asilo liga para a casa dele, comunicando que a mãe está mal e o caso era de morte. Mais que depressa ele se dirigiu ao asilo para ver a mãe pela última vez. Lá chegando, travou-se um diálogo entre mãe filho. Ele quis saber o que poderia ainda fazer pela mãe agonizante. Ela foi clara: compre ventiladores para este asilo, meu filho! O calor aqui é insuportável. Compre também algumas geladeiras, pois aqui a comida estraga e eu mesma já dormi muitas vezes sem jantar.
O filho, um pouco cabisbaixo, questiona: “por que essa preocupação, pedindo tudo isso, mamãe?” Sei que a senhora vai morrer logo! Ela, ainda com um sorriso no rosto, lhe diz: “ Eu já estou acostumada com o calor e dormir com fome, mas o meu grande medo é que você não suporte o intenso calor daqui e ainda ficar com fome, quando seus filhos colocarem você neste lugar!”
O relato parece ser fantasioso, porém na prática, milhares de filhos abandonam seus pais num asilo, quando poderiam dar-lhes guarida. Quem não se lembra da canção “Couro de Boi”, gravada por muitas duplas sertanejas, falando da ingratidão do filho? Diz a letra dos consagrados compositores Teddy Vieira e Palmeira que “um pai trata de 10 filhos e 10 filhos não tratam de um pai”.
Esta é uma bela lição para os filhos que ainda insistem em colocar os pais num asilo, não tendo a fineza de dar o carinho que eles necessitam no final da vida. É comum acontecer isso. Basta visitar qualquer asilo em pequenas, médias e grandes cidades. Cada velhinho ou velhinha tem a sua história prá contar. Onde estão agora: o velho Brito, o violeiro Luiz, o artesão Ailton, o locutor João Paulo e tantos outros? Deixaram o asilo e este mundo queixando-se dos filhos por não terem lhes dado o carinho que tanto necessitam naquele local sombrio. (Jairo de Lima Alves in adaptação para este Canal de Comunicação)
Um poema:
Natal no Asilo dos Velhinhos
Longe da família, bate uma amarga saudade:
os velhinhos em pranto estão naquele asilo.
É Natal! Rolam as lágrimas, sem felicidade…
sem entender, Lar do Idoso e um novo estilo.
Na casa do filho não sobra espaço, é assim…
o velhinho agora está no asilo, vivendo só;
embora com tantos outros, ele chora, sim.
Grande é a solidão, dele somente Deus tem dó.
“Lar São Francisco”, “ ali estão muitos pais…
“São Vicente de Paula”, uma nobre missão.
Criaturas abnegadas trabalhando ainda mais
João Paulo, Ailton, Luiz… noutra dimensão.
Doente ou com saúde, o velhinho tem um lar.
Sofrem calados…no peito, tanta amargura…
onde estão meus filhos? Não vêm me visitar?
Quem sabe neste Natal! O pobre velhinho jura.
Em pé ou na cadeira de rodas, fica esperando.
Chora baixinho, curtinho a solidão que assola;
na companhia, os anjos, no Natal cantando…
ninguém mais aparece ali, e ele triste chora…
25.12.2007 – Jairo de Lima Alves