AS PROVOCAÇÕES DO COLUNISTA – Com suas diferentes posições sobre o governo Dilma, os 40 embaixadores aposentados que assinaram um manifesto de apoio ao governo brasileiro, e de repúdio ao de Israel, eliminaram qualquer dúvida na questão: Israel violou a praxe da indicação de embaixadores, apoiada na Convenção de Viena, e o Brasil está correto ao ignorar o indicado. Mesmo com ameaças israelenses de retaliação.
Mas permanece em aberto uma indagação. Se as relações comerciais e outros contatos entre os dois países não se alteraram nos últimos tempos, o que motiva e o que pretende Israel com os insultos agressivos que passou a fazer ao Brasil, desde pelo menos meado de 2014? Em 24 de julho daquele ano, um porta-voz do ministro do Exterior e premiê Netanyahu definiu o Brasil como “anão diplomático”. Para comprovar que não foi apenas idiotice de um assessor, no dia seguinte o mesmo sujeito disse ser o Brasil “politicamente irrelevante”. As duas vezes, em entrevistas internacionais.
A meio do ano passado, Netanyahu divulgou na internet a sua escolha para embaixador no Brasil: Dani Dayan, por seis anos presidente do Yesha, entidade propagadora das ocupações e dos “assentamentos” em terras palestinas, muitas vezes condenados na ONU. E contrário ao recente Estado da Palestina, já reconhecido por mais de 70% da ONU. Dani Dayan é um praticante da teoria de “conquista de espaço vital” que Netanyahu e alguns antecessores foram buscar na década de 1930.
Netanyahu ainda tardou semanas a encaminhar ao Brasil o pedido de “agrément” (concordância, aprovação) para Dayan. Ao recusar a consulta preliminar e sigilosa, que é ato de praxe, e antecipar pela internet o escolhido impróprio, Netanyahu fez um insulto e uma provocação. O Brasil não respondeu e não vai responder.
Nas relações internacionais, há atitudes que são contra um governo e atitudes que são contra o país. Netanyahu adota a segunda, confirmada pelo aviso de futura “retaliação ao Brasil” feito por Dayan. Ao visar o país, fizeram a escolha certa. Reprovar a ação extremista e violenta de governos israelenses, contra decisões da ONU e contra direitos palestinos, para nem falar em vidas, é uma posição do Brasil, mantida com o passar dos governos no regime democrático.
Se em tal posição o extremismo israelense não reconhece valor, também não o tem a posição que apoiou a criação e hoje apoia a existência de Israel: as duas posições nasceram juntas, partes da mesma resolução da ONU e da mesma posição e mesmo voto do Brasil em 1948, repetido desde então.
O convívio cordial que é dado aqui à comunidade judaica não faria prever os insultos e provocações que Israel vem dirigindo ao Brasil. Essa comunidade tem os seus extremistas. Será melhor, para todos, que eles sejam contidos e não importem o espírito de Natanyahu. Os ânimos no Brasil não estão para riscos desse tipo.
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Leia abaixo a resposta do presidente da Conib, Fernando Lottenberg, ao texto publicado em 10 de janeiro pelo jornalista Jânio de Freitas, na Folha de S. Paulo:
“Jânio de Freitas, em sua coluna deste domingo, mais uma vez destila seu ódio a Israel. Desta vez, porém, foi mais longe – longe demais – ao insinuar que o ‘convívio cordial que é dado aqui à comunidade judaica’ estaria ameaçado, caso brasileiros judeus manifestem-se em um determinado sentido, em questão diplomática entre os governos brasileiro e israelense: ‘Os ânimos no Brasil não estão para riscos desse tipo’, ameaçou o colunista.
Os judeus, como todos os brasileiros, têm direito a manifestar suas opiniões e a não serem ameaçados por elas, como parece insinuar o colunista, de forma ao mesmo tempo condescendente e intimidatória, evocando atitudes abertamente antissemitas”.
Fernando Lottenberg
Presidente da Confederação Israelita do Brasil