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17/04/2024
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    Entrevista histórica em homenagem aos 100 anos do ex-Governador Wilson Martins

    No último ano de seu governo (1986), quando Wilson Martins já preparava sua candidatura ao Senado, o então repórter da TV Morena, Bosco Martins realizou uma entrevista exclusiva com Wilson que se preparava para deixar o governo de MS, no segundo semestre de 1985. Ele não falou apenas sobre seu governo; contou também as alegrias e dificuldades enfrentadas no comando do estado: “Eu sou um homem profundamente ligado à família, aos amigos, gostando de conviver com as pessoas do povo. E, no governo, infelizmente nos sentimos um pouco tolhido em todas essas manifestações”.

    Ao ser questionado sobre as restrições às liberdades democráticas que vivenciou em seu tempo, Wilson explicou que só pode retornar a vida pública “graças a pressão popular que forçou o processo de abertura no país, permitindo não só o seu retorno, mas de outras grandes lideranças políticas”.

    A entrevista de Wilson Martins com o jornalista Bosco Martins, à época marcou por ter sido a primeira a ser exibida na TV-Morena (onde o jornalista trabalhava) e posteriormente em todos os outros canais de TV de MS. Foi considerada histórica porque, também pela primeira vez, o um ex-governador falou de temas considerados “inconvenientes para um governante”, como sua relação e possível “traição” de Wilson para com o ex-prefeito Lúdio Coelho que almejava ser seu candidato governador. Na entrevista de 45 minutos, Wilson aparece bem a vontade e assumindo um tom informal e admiti, ente outras, ter no ex-governador Pedro Pedrossian seu grande adversário político: “adversários políticos não podem se tornar inimigos”.

    Martins relembra que foi convidado pelo jornalista Mario Ramires justamente por isso e só aceitou fazer o programa por confiar e combinar com Mário, a Sandra (Sandra Menezes, jornalista que participou da produção do programa) e o próprio Dr. Wilson, de que as perguntas seriam feitas sem conhecimento prévio dele: “bem à queima-roupa mesmo, sem censura! E eles toparam! O Mário Ramires era do ramo e sempre foi um mestre na arte do jornalismo ”, destacou o Jornalista 32 anos depois de realizar a entrevista.“É absolutamente vital saber distinguir o inimigo do adversário. Os dois são muito diferentes entre si. Enquanto o adversário contenta-se em derrotá-lo, o inimigo só encontra paz destruindo-o. Não era o caso da política naquele tempo”, registra o jornalista Bosco Martins e o “Dr. Wilson “sabia bem lidar com isso”.  O jornalista Bosco Martins foi contratado para fazer a entrevista quando trabalhava na TV Morena e se tornou referência na profissão pelo talento para realizar entrevistas, onde era tido como repórter que “incomodava políticos” com perguntas bem “calibradas” e se dizia um apaixonado pelo exercício da reportagem, o que para ele é o que ainda é “realmente importante” no jornalismo.

    Mário Ramires, que foi secretário de Comunicação no governo Wilson, faleceu em setembro de 2012 e a reportagem de atual presidente da Fertel (Fundação Estadual Luís Chagas de Rádio e Televisão Educativa) jornalista Bosco Martins você poderá ler na integra a entrevista completa, reproduzida no texto abaixo:

    ABERTURA MARIO RAMIRES:

    O programa que você vai ver agora contem imagens e declarações absolutamente inéditas do nosso governador, que neste momento de grande expectativa e de grandes definições, responde a uma série de questões levantadas não só pela imprensa, mas pelos próprios populares”, in memoriam Mario Ramires.“A história de Mato Grosso do Sul já pode ser dividida em dois períodos principais. Antes e depois do governo Wilson. Primeiro governador eleito diretamente pelos sul-mato-grossenses, Wilson Martins implantou na verdade, uma nova mentalidade administrativa. Uma nova forma de conciliar os anseios da população com as necessidades do Estado.

    Wilson Especial 100 anos:

    Repórter Bosco: Estamos aqui com o governador, Dr. Wilson Barbosa Martins, que nos vai falar não só deste ano que passou, mas também destes quase três anos que ocupa o poder em frente ao governo do Estado.  Governador, desde que assumiu em março de 83, quais são as derrotas e vitórias que o senhor já teve?

    Governador Wilson Martins: Eu gostaria de dizer que não tenho derrotas a registrar. Na verdade, o governo é vitorioso. Nós atingimos muito além das metas propostas, no campo político, inclusive poderia recordar agora a retumbante vitória obtida em 15 de novembro.

    Repórter Bosco: Os opositores dizem que essa vitória em 12 dos 14 municípios se deve mais a força da máquina administrativa e até mesmo o uso do dinheiro em campanha do que mérito ou liderança do senhor. Como é que o senhor vê essa questão governador?

    Governador Wilson Martins: Na verdade o governador se empenhou a fundo para obter essas vitórias. Participou da luta em todos os municípios, ajudou a vitória do seu partido. Isso é a pratica corrente hoje no Brasil. Não se julga que isso seja antiético nem antipolítico. Quanto ao uso de dinheiro, quem usa cuida. Se eles usaram no passado, pensam que nós fazemos o mesmo uso hoje. Eu repilo com veemência essa acusação.

    Repórter Bosco: Nessas três tendências, centro, direita e esquerda. O senhor estaria mais próximo de qual delas?

    Governador Wilson Martins: Eu sou um homem pragmático, mas profundamente democrático e profundamente sensível aos anseios da massa do meu Estado. Não sei onde estou, mas sei que atendo as reivindicações mais justas da nossa população.

    Eleitor: O seu governador, eu queria saber se esses mutirões que o senhor faz é só para ganhar voto ou vão continuar?

    Governador Wilson Martins: Todos os municípios que foram beneficiados pelos mutirões estão entusiasmados e estão satisfeitos. Não é uma obra política, eleitoreira. É um serviço que na verdade parte do princípio de que os nossos recursos são escassos e o governo, com a população, resolve problemas de água, de energia, enfim, de todas as naturezas.

    Governador Wilson Martins: A minha posição ao lado dos trabalhadores é inegável. Sou um homem que acha que nós devemos levantar o nível daqueles que estão até aqui, marginalizados da vida econômica brasileira.Repórter Bosco: Os setores mais conservadores o criticam pela democratização nas escolas, a política carcerária e mesmo apoio aos sindicatos. Isso tem feito o seu governo retroagir em outras questões?

    Repórter Bosco: Governador o senhor estaria disposto a abrir mão da sua candidatura ao senado em nome da unidade do partido, mesmo que isso represente um avanço da direita dentro do PMDB?

    Governador Wilson Martins: A unidade do partido para mim é muita coisa, mas a formação de uma assembleia nacional constituinte capaz de fazer as mudanças significa mais do que a unidade aqui. E acho que nós temos que levar para a assembleia nacional constituinte, homens que vão fazer as transformações no Brasil. O povo hoje deseja isso ardentemente. Nada está acima desse compromisso, assumido na campanha das Diretas, e eu coloco isso como um ponto de honra. Agora, eu faço tudo para que nós tenhamos uma campanha no próximo ano, dentro do espírito de concórdia e de honestidade. Mas a posições das quais não se pode desertar. Eu acho que acima de tudo, sobreleva hoje dar ao povo brasileiro as mudanças que significam numa palavra, maior oportunidade a esse mesmo povo de realizar-se como ser humano.

    Repórter Bosco: O senhor não acha que muitas obras que o governo do Estado realizou em Campo Grande acabaram sendo canalizadas para uma popularização do prefeito Lúdio Coelho sem que ele mereça?

    Governador Wilson Martins: Nós temos feito em Campo Grande uma obra boa, apreciável e não tem sido mostrada a população. Não temos feito propaganda na verdade, mas eu acho que chegou a hora de mostramos, como uma prestação de contas, o que temos feito pelo Estado, para que o povo se de conta realmente do que tem sido essa administração. Para que possa julgá-la, avaliá-la. O Lúdio, você perguntou, tem feito também uma boa gestão. Ele tornou-se estimado na cidade. Não sei o que ele teria se aproveitado do que foi feito pelo Estado e do que foi feito pelo município, assim como eu não sei o que constitui neste resultado eleitoral, o que representa o meu esforço e o que representa o esforço dele. É difícil fazer esse julgamento.

    Repórter Bosco: A forma como o prefeito vem agindo não pode causar um racha dentro do PMDB. O senhor não tem mágoa dele ter se lançado a sua sucessão sem consultá-lo?

    Governador Wilson Martins: A vida democrática é isso aí. Nós temos que admitir a luta. A democracia se faz através da participação de um ou demais candidatos. O partido tem que mostrar competente. Os líderes têm muitas vezes que ser bombeiros. Eu não acredito em racha. Lúdio está nessa porque entendeu que a sua popularidade e a sua administração realmente lhe deu muita popularidade, mas ele não tem popularidade nos municípios do interior como tem em Campo Grande. A posição é muito diferente.

    Repórter Bosco: O funcionalismo público. O senhor acabou colocando a casa em ordem, mas os funcionários reclamam de serem mal remunerados. O senhor, por exemplo, viveria com um salário de 600 mil cruzeiros?

    Governador Wilson Martins: Infelizmente não, mas sei que uma porcentagem muito grande da população brasileira vive com um salário mínimo. Acho isso profundamente injusto. Acho que os funcionários que reclamam, principalmente aqueles que estão na faixa menor de salário, tem razão. Mas quem paga, muitas vezes paga o salário que acha justo. De que adiantaria eu dizer que todos os salários não seriam inferiores a três mínimos, se eu nunca teria condições de pagá-los. Muitos estados estão aí com as folhas atrasadas. Não pagam outubro, não pagam novembro, não vão pagar dezembro e nem do 13º. Eu estou em dia, justamente porque eu tenho os pés no chão.

    Eleitor: Governador o Estado perdeu 3 trilhões de cruzeiros com a estiagem. Como o senhor pretende tocar a economia em 86?

    Governador Wilson Martins: Realmente a estiagem é extremamente rigorosa neste ano. Estamos muito preocupados no Estado. O prejuízo dos agricultores, dos pecuaristas e os próprios prejuízos do tesouro são muito grandes. Não me lembro de uma estiagem tão prolongada e os efeitos no exercício de 86, em relação a execução orçamentária serão muito duros. Termos realmente que adotar providencias heroicas em 86 para superar as dificuldades de hoje.

    Repórter Bosco: Campo Grande. O que essa cidade representa para o senhor?

    Repórter Bosco: É verdade que o senhor fez poucas coisas em Dourados porque lá está o quartel general da oposição ao seu governo?Governador Wilson Martins: Campo Grande para mim é a minha cidade, é o meu país, é onde nasci, onde casei, onde tive meus filhos e que me realizei como advogado, em que me transformei em político e cheguei a governador do Estado. Para mim Campo Grande é o lugar onde vou morrer, vou ser sepultado. Campo Grade significa tudo para mim. É o meu lar. Realmente é minha alma.

    Governador Wilson Martins: Bem, contesto primeiro que tenha feito poucas coisas em Dourados. Fiz muito por Dourados. Fiz mais por Dourados que por qualquer outra cidade do meu Estado. Construí lá uma serie enumerada de obras. Tenho ali um canteiro de obras hoje. Segundo, contesto que ali seja o quartel general do PDS. O quartel general do PDS hoje não existe no Brasil e foi expulso de Mato Grosso do Sul.

    Repórter Bosco: O senhor teme a chegada de novos ‘brasiguaios’. Como é que o senhor vê a situação desses brasileiros e como eles vivem no Paraguai?

    Governador Wilson Martins: Não podemos impedir a vinda de ninguém para o nosso Estado e nem de brasileiros que estejam no exterior para que, este é um assunto que cabe ao governo Federal. Fazer tratativas, fazer contato com as autoridades paraguaias e dar condições melhores aos brasileiros que se acham no Paraguai, para que eles lá, vivam em uma situação de conforto e tenham condições de não precisar abandonar a terra. Nós aqui temos uma posição conhecida. Agimos com tranquilidade, mas agimos dentro das normas do nosso partido. Nós damos preferência e damos prioridade para o sem-terra para que eles possam dispor de uma porção do chão, de tal forma que fiquem trabalhando e produzindo para aumentar a mesa dos brasileiros.

    Eleitor: Nós gostaríamos de saber em que pé que a anda a situação da Aldeia de Piracuá? Gostaríamos de saber se nós teremos ou não uma solução em relação a essas terras?

    Governador Wilson Martins: Essa questão de Piracuá na verdade é uma questão confiada ao Ministério do Interior. Eu não sei se realmente os índios tinha a propriedade e a perderam, como perderam. Eu não sei a situação exata do problema, que não está afeto ao governo estadual. Há uma comissão incumbida na área federal de dar tratamento ao assunto. Mas gostaria de dizer desde logo que sou um homem profundamente simpático a causa do índio. Que recentemente me sentei a mesa dos índios para resolver um grave problema que havia entre eles e os fazendeiros.  E que esse assunto se resolveu em alto nível. Não se resolveu a custa de comissões. Não se resolveu a custa de praticas ilegais, mas foi resolvido salutarmente a luz da lei e com apoio aos indígenas para que eles voltassem a arredar suas terras aos fazendeiros. Essa é a conduta do meu governo.

    Repórter Bosco: A questão do tráfico de drogas. O Estado tem uma imagem muito negativa a nível nacional por causa do tráfico. Eu gostaria de saber do senhor, esse é uma cumbuca que nem o governador gosta de meter o dedo?

    Governador Wilson Martins: Eu não me excluo de nenhuma missão que o povo me confiou. Eu estou pronto a pôr o dedo em todas as feridas. Mas quem é a responsável por esse problema de combate ao tráfico de drogas? Não é o governo estadual e nem a sua polícia. Isso aí cabe a Policia Federal. Nós estamos dispostos a fazer tudo que estiver em nós para impedir a vindo do exterior e a passagem aqui por Mato Grosso do Sul. Não desejo jamais que MS seja ou continue a ser um corredor de passagem de drogas.

    Repórter Bosco: Governador o relacionamento com os militares. Eles reassumiram mesmo o papel deles ou ainda gostam de interferir no processo político?

    Governador Wilson Martins: O meu relacionamento com os militares é excelente. Não tenho nenhuma, a mais leve intromissão na minha atividade de governador de ninguém. Nenhum militar jamais procurou embaraçar, influir na minha atividade. Então sou obrigado a admitir que os militares refluíram para os quartéis, para a sua atividade constitucional. Essa é a realidade que posso deduzir da minha posição no governo, da minha vivência nesses três anos.

    Repórter Bosco: Traçando um paralelo entre o seu passado, inclusive quando o senhor chegou a ser cassado quando político da UDN e o seu futuro agora como governador. O que mudou dessa época para agora para o homem Wilson Martins?

    Governador Wilson Martins: Bem, você como político está sujeito a estar em cima e a estar embaixo. A comer da banda boa e da banda boa. É uma contingência da vida política. E isso existe desde o passado mais remoto. Quem abraça a vida pública, não sendo oportunista e carreirista, tem que conhecer tudo isso. Eu não tenho nada a reclamar do passado. Acho que no passado cumpri o meu papel. No presente cumpro o meu papel e entendo que a abertura democrática de hoje deve ser regada por todos nós, cuida de tal modo que não voltemos a esse passado negrejado de 20 anos.

    Repórter Bosco: Governador o senhor pode ser considerado um latifundiário. Isso não tira um pouco a credibilidade na defesa da proposta da reforma agrária?

    Governador Wilson Martins: Bem eu não tenho terras que eu possa ser confundido com um latifundiário e as poucas que possuo, elas estão trabalhadas, estão utilizadas. Eu não possuo um palmo de terra inútil.

    Repórter Bosco: Governador o senhor te uma imagem de homem sério, que dificilmente ri. Em casa o senhor também é assim ou é só aparência de homem público?

    Repórter Bosco: O senhor sabe contar piada governador?Governador Wilson Martins: Eu dou boas risadas meu caro. Risadas as vezes de doer a barriga, mas no geral eu tenho assim uma imagem até sisuda.

    Governador Wilson Martins: Não sei. Às vezes eu conto para a minha mulher, que quase se desprega de rir, mas só. Não sei assim, numa roda maior, não sei contar nenhuma piada.

    Repórter Bosco: O senhor não sabe contar algum causo do Estado, um caso engraçado que lembra da infância do senhor?

    Governador Wilson Martins: Geralmente são casos que não posso trazer a público.

    Repórter Bosco: Uma pergunta que político nenhuma gosta de responder. O senhor torce para o Operário ou para o Comercial?

    Governador Wilson Martins: Eu não sou muito de futebol aqui em Campo Grande, mas as minhas origens são comercialinas, embora seja o time sofredor e o grande time seja o Operário. Mas realmente não tenho torcida fixa não.

    Repórter Bosco: Na área cultural governador, qual é a grande expressão hoje do Estado, que o senhor considera?

    Governador Wilson Martins: Na área cultural, bem em matéria vamos dizer de pintura, as preferências todas são para o Humberto né. Na parte de literatura, eu preferia citar aqui o nome de Manoel de Barros, para mim o melhor escritor de Mato Grosso do Sul. O último livro dele, o livro de pré-coisas, retrata o Pantanal de uma maneira extremamente bela e poética.

    Repórter Bosco: O senhor se considera um homem culto? Que tipo de leitura o senhor gosta mais?

    Governador Wilson Martins: Eu não tenho preocupação assim em dizer que sou culto. Nada, eu sou um homem que leio, mas leio assim de uma maneira anárquica.

    Repórter Bosco: O senhor sabe cantar?

    Governador Wilson Martins: Não, a minha voz não se presta a uma exibição, ainda que rápida (risos).

    Repórter Bosco: Desafinado?

    Governador Wilson Martins: Sim, sou desafinado. Minha mulher disse que eu só sei cantar o hino nacional.

    Repórter Bosco: Como é que o senhor se sente pisando já no asfalto aqui da 262?

    Governador Wilson Martins: Estamos atravessando o asfalto que liga Corumbá e Ladário ao Planalto. Eu me sinto realizado. Essa é realmente a grande obra histórica que deixo como legado a todo o meu povo. Isso aqui me realiza integralmente. Não se trata de uma obra eleitoral. Eu nem prometi essa obra a Corumbá e nem a Ladário. Eu desenvolvi o governo, eu a projetei. Vim até aqui, senti que era a maior aspiração da região. Lancei-a, consegui recursos e ela será realiza até julho de 86.

    Repórter Bosco: Agora, o senhor teve que fazer uns empréstimos em dólar. Eu gostaria de saber do senhor, construir estradas não endivida muito o Estado não? O senhor não vai acabar deixando muita conta para o seu sucessor pagar?

    Governador Wilson Martins: Eu não penso em dívidas. Eu penso em pagá-las. E quem constrói estradas está acelerando o desenvolvimento do Estado. As estradas se pagam facilmente e assim como herdei contas do governo anterior e as paguei religiosamente, os futuros governadores deverão também ter o seu quinhão de endividamento e de honrar os compromissos que eu estou deixando.

    Eleitor: Eu não sou daqui de Campo Grande, sou de Corumbá e o sonho de todo corumbaense é terminar a estrada de Corumbá a Campo Grande. Será que ela vai sair em 86?

    Governador Wilson Martins: Você vê aqui doze maquinas, fazendo, complementando este aterro e neste instante nós temos 80% de todo o serviço de terraplanagem totalmente pronto. 55% da parte asfáltica também construída. Estamos numa fase de grande trabalho aqui no Baixo Pantanal. Vencemos a parte mais difícil da obra.

    Repórter Bosco: Governador a gente ta num trecho da BR já dentro do Pantanal. É certo que a estrada vai trazer o desenvolvimento, o progresso, mas o senhor não teme também que ela traga a destruição da fauna e da flora pantaneira?

    Governador Wilson Martins: Receio e por recear, vou lançar a Polícia Florestal, com a ajuda dos pantaneiros, com ajuda dos fazendeiros, de toda a população dessa região e do Estado. Não podemos admitir que essa natureza seja agredida. Que se destrua isso aí que constitui para nós o maior patrimônio de Mato Grosso do Sul em matéria de beleza. Isso tem que ser preservado.

    Repórter Bosco: Governador o Tribunal Superior Federal praticamente acabou com a lei de agrotóxicos, considerando inconstitucional dois dos artigos mais importantes da lei. O que prevê penalidades e aquele que cria uma comissão especial de controle ao uso de agrotóxico. O que aconteceu, não deu para segurar as pressões dos fazendeiros e das multinacionais?

    Governador Wilson Martins: Essa questão ainda é muito polemica. Não há ainda como se usar apenas um processo natural de combate as pragas. Nós precisamos investir na educação da sociedade. Para partimos então, de uma maneira decida, no controle do meio ambiente.

    Repórter Bosco: O senhor reconhece que a Lei sem penalidade é inóspita?

    Governador Wilson Martins: Perfeitamente. Lei que não tenha sansão, penalidade, não é lei, é um preceito moral.

    “Aqui se faz uma obra que não tem nenhum símile, não tem nenhuma obra semelhante hoje numa cidade de porte médio no Brasil. Nós teremos condições, com o reservatório do Guariroba, de atender a demanda de toda a cidade até o ano 2000. Mesmo que haja uma grande estiagem, reclamações que são repetidas em numerosos bairros da cidade, o que ficarão sem sentido, ficarão atendidas no mês de maio de 86”, destacou Wilson em visita a obra do reservatório em 1985.

    Repórter Bosco: O senhor está realizando o Projeto Nordeste, uma obra significativa do seu governo no setor de energia:

    Governador Wilson Martins: Na verdade essa obra é a maior de todas em matéria de eletrificação. O Projeto Nordeste compreende a extensão de linha de transmissão desde Selviría até Cassilândia, passando por Aparecida do Tabuado e por Paranaíba, num total de 280 km e futuramente o abastecimento da região ali do Chapadão dos Gaúchos e da própria cidade Costa Rica.

    Repórter Bosco: O projeto que o senhor enviou a Assembleia criando 24 mil novos cargos na área da Educação. O pessoal está dizendo por aí que não é nem ‘trem da alegria’ é um ‘transatlântico da felicidade’. Havia mesmo necessidade de tantos cargos?

    Governador Wilson Martins: Esta é uma impressão superficial ou uma posição de combate ao governo. Pôr na verdade um governo dinâmico, realizador, ele constrói mais 1400 salas de aula, ele tem que dar empregos para atender a área social e de saúde. Ele tem que atender, multiplicar a parte de segurança. Ele tem que fazer um serviço de saúde muito mais perfeito. O governo não está trabalhando eleitoreiramente, o governo está trabalhando em todo o seu período administrativo. Nós temos ainda um ano de governo. Nosso período só se fecha em março de 87, então não podemos, com receio de críticas, paralisar a administração.

    Repórter Bosco: Governador a direita parece que está se rearticulando no PTB de Jânio Quadro, na ida do governador Júlio Campos e Mato Grosso e parece também que o ex-governador Pedrossian está com o pé dentro do partido já é uma amostra disso. O senhor não teme que o PTB possa ressuscitar o ex-governador Pedro Pedrossian?

    Governador Wilson Martins: Eu acho que todos esses pseudolideres que já fracassaram um partido e respondem por um passado nefasto, eles não têm como ressuscitar. O povo não é tolo. O povo não é criança. Com sigla de PTS, com sigla de PTB, com qualquer sigla, eles são sempre os responsáveis por um legado terrível ao povo brasileiro.

    Repórter Bosco: Governador e esse gabinete aqui é só para receber pessoas importantes?

    Governador Wilson Martins: Não, nesse gabinete aqui eu recebo não somente o mundo oficial, mas eu recebo representações, as categorias sociais. Eu recebo os trabalhadores, recebo aqui os funcionários, então isso aqui é também um respiradouro da população e eu colho aí a fonte principal de inspiração da minha luta.

    Repórter Bosco: O seu governo tem algum estilo governador?

    Governador Wilson Martins: Sim, todo homem tem um estilo. Eu não fecho na minha mão tudo que deve ser decidido na máquina governamental. Cada secretário tem uma atribuição de decisões, mas na verdade é o governo que comanda. Meu governo que comanda a ação dessa máquina sem nenhuma liderança autocrática. Minha liderança é uma liderança democrática. Eu ouço, eu reflito e descido com a minha equipe. Nós temos aqui um governo que nós chamaríamos de governo participativo, um governo que não se isola do povo. Eu acho que a virtude maior desse governo é governar junto com a população, junto com o povo realmente.

    Repórter Bosco: Tão importante a constituinte governador. O senhor não acha que da forma como ela foi convocada, sem uma participação efetiva popular, ele não pode ser descaracterizada?

    Governador Wilson Martins: Não, eu acredito que a constituinte foi provocada e ela se deve a participação popular. Foi o povo nas ruas que a exigiu e o governo a enviou ao Congresso Nacional a sua emenda, que discutida e modificada, acabou prevalecendo. As eleições terão lugar em 86 e vamos renovar esse país através da modificação fundamental da sua Constituição.

    Repórter Bosco: Uma preocupação generalizada é com relação a constituinte. O senhor acha que os Lobs não podem influenciar não?

    Governador Wilson Martins: O que é Lob? Lob é uma palavra inglesa que significa tráfico de influência. É influenciar o Legislativo, é influenciar o Executivo para obter decisões. Esses lobs existem em toda parte. Agora cabe ao cabe ao Legislativo e cabe ao governo, o Executivo, ceder na medida em que essa cessão vem ao encontro das aspirações coletivas. E resistir valentemente, bravamente e impedir que o lob traga a corrupção.

    Repórter Bosco: O senhor confia no Congresso Nacional?

    Governador Wilson Martins: Eu confio neste país. Eu confio nas instituições como instituições. Agora sei que elementos deste ou daquele poder se corrompem, e estes devem receber a sansão da população, do eleitorado, no veto as candidaturas indecentes que surgem e também a responsabilidade penal por parte dos órgãos competentes.

    Repórter Bosco: Governador e essa casa aqui, o senhor não abre mão dela não, abre?

    Governador Wilson Martins: Esta casa, por incrível que pareça, custou R$ 3 milhões de cruzeiros.

    Repórter Bosco: Mas o senhor não abre mão dela não, abre?

    Governador Wilson Martins: Eu sou como gato. Eu vivo no meu canto, não quero amolação. Então não quero saber de mudança.

    Repórter Bosco: Governador vamos provocar um pouquinho a Dona Nelly. O Fasul (Fundo de Assistência Social de Mato Grosso do Sul) é um órgão meramente assistencialista?

    Governador Wilson Martins: A Nelly correspondeu a minha expectativa e foi além dessa expectativa na direção do órgão. O trabalho desenvolvido pelo Fasul, no meu ponto de ver, constitui a maior surpresa do governo. Ela levantou o Fasul. Montou essas creches que haviam apenas em nome. Não havia coisa nenhuma antes. Ela montou essas creches, ela está promovendo uma assistência muito grande à população carente. Realmente o Fasul prestou no meu governo um grande trabalho. Promoveu não só a população carente, mas promoveu o meu governo também.

    Repórter Bosco: E a senhora Dona Nelly. A senhora não acha esse órgão paternalista?

    Nelly Martins: Não. Há resquícios de paternalismo, porque dentro do nosso governo, dentro do nosso sistema de governo, aonde os homens não têm os seus direitos assegurados, às vezes você tem que dar um pouco de assistência para o embalo da pessoa. Então dá-se aquele primeiro passo e solta o homem para que ele cresça e desenvolva por si próprio. Nosso principal trabalho, nossa meta é a promoção e bem-estar do homem, mas através dos seus próprios valores.

    Repórter Bosco: Vamos voltar aqui na intimidade do governador. É verdade que ele é um homem sisudo em casa?

    Nelly Martins: Que nada. É malandro, é contador de história. Arremeda a gente, tem muito humor. Quando ele me arremeda, em vez de eu ficar brava, eu choro de rir.

    Repórter Bosco: Final de ano agora, passagem do Cometa Halley. O senhor acha que traz alguma transformação?

    Governador Wilson Martins: Eu acho que essa expectativa que se cria de que vai brilhar novamente, depois de 75 anos, é sempre uma novidade, uma esperança de ver um espetáculo de beleza, de brilho, de cores talvez e ao homem, que vive de ilusões sempre, isso é muito grato. Nós estamos esperando vê-lo no firmamento.

    Repórter Bosco: Governador, uma coisa que não tem como fugir. A mensagem de ano novo:

    Governador Wilson Martins: O que eu poderia dizer é que eu espero um melhor ano novo, espero que haja maior abundancia de chuvas. Nós precisamos de chuvas! Estamos vivendo uma seca terrível. Um grande calor. Então eu espero que essas condições climáticas melhores para que haja um desempenho melhor da nossa agricultura. E também, evidentemente, eu não posso silenciar o calor que sinto dentro de mim, o desejo que eu tenho que o nosso povo, a nossa população toda aqui de Mato Grosso do Sul, viva melhores dias em 86. A mensagem despretensiosa que eu transmito nessa hora, é justamente essa. Fazendo votos para que haja um ano bom em 86.

    TV Educativa/MS Canais de exibição: Canal 4 da TV aberta, Canal 15 da NET ou pelo Portal da Educativa: www.portaldaeducativa.com.br no link: https://www.youtube.com/playlist?list=PLrjL08nFNUrtfhEVgyZRNe7-Fiv13KHlH 

    Horários de exibição:

    Quarta-feira 21/06 ás 21 hs

    Sexta-feira 23/06 ás 19:00 hs

    Sábado 24/06 ás 9;00 hs

    Domingo 25/06 ás 11: hs

    Segunda-feira 26/06 ás 20hrs (antes do Roda Viva)

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